A excitação pelo feriado

14 jun • NotasNenhum comentário em A excitação pelo feriado

O feriado de Corpus Christi nesta quinta-feira é, para a maioria, inclusive de católicos, apenas um dia de descanso seguido de um dia de batente mais o final de semana. Para quem pode, um feriadão e tanto.

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Nos estacionamentos do Centro de Porto Alegre o movimento já começa a cair de hoje em diante. Sem ofensa, muitos funcionários públicos acertam com as chefias o prolongamento que, então, vira um feriadão de mais de metade de uma semana. Como eu disse, é para quem pode.

As flores pisoteadas

O contraste com o Corpus Christi de minha adolescência é violento. Dias antes, as mulheres donas de casa eram convocadas para despetalar flores próprias ou de terceiros para formar desenhos bonitos para a procissão do corpo do Senhor.

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Tão bonitos os arranjos e de vida tão breve, massacrados que eram pelos pés dos fiéis. Havia religiosidade no ar inversamente proporcional à idade. Para nós adolescentes, ela não passava da missa. Para os mais velhos, o sentimento prevalecia até o final do dia.

Eram tempos bem definidos, ao contrário de hoje. Era pão, pão, água, água. Tudo com limites rígidos ou pouco elásticos nos usos e costumes. Sinto falta dessas fronteiras, comparadas à esculhambação de hoje.

Também é verdade que não era muito fã de procissões, de todas elas. As mães  vigiavam os traquinas pois, se não abrissem o olho, escapavam num zás-́trás, na linguagem da época. O sermão materno vinha de noite, mas a Inês estava morta.

Essa é a parte boa de recordar; A ruim é que iríamos todos para o inferno se não obedecêssemos as ordens da Santa Madre. Ai de quem morresse em pecado mortal.

Disso não tenho saudade, porque eu e toda a minha geração mais as anteriores vivemos tempos de pavor por estar em situação de pecado, para usar a linguagem de hoje.

Cordialidade precoce

A verdade maior era que curtíamos o Corpus Christi mais por não ter aula do que pela religiosidade. Então vinha a sexta com o ar doce do final de semana. Todos são cordiais nas vésperas de feriado e aos sábados de manhã.

Imagino que os que podem fazer feriadão já são cordiais desde hoje. 

Ou vai ou racha

Junho é o mês em que os partidos políticos marcam na folhinha como prazo final do “dá ou desce”, entendido como o início das campanhas. Mas vamos deixar de ser hipócritas. O formalismo de dizer que alguém é pré-candidato é empulhação da grossa. Para efeitos práticos, JÁ SÃO candidatos há horas. Lula, por exemplo, já visitou 25 cidades na condição de “pré”. Mas me engana que eu gosto.

A hora do matrimônio

Dentro desse fingimento protocolar há o tempo necessário para costurar apoios e parcerias ou frentes, como está na moda. Não tanto para candidatos a presidentes, mas para vice e vices de governadores. É neste ponto que o caminhão das melancias freia para acomodar as barrigudinhas na carroceria. 

Cabeça e rabo

É inevitável. Alguns candidatos só querem ser cabeça de baleia e não rabo de sardinha, então ou mascam e engolem ou esperneiam, mas sem resultado prático. O bloco dos ressentidos é grande.

O que mudou de cinco meses para cá na corrida presidencial? Pouca coisa para não dizer nada. A luta é entre  os dois maiorais, cada um com sua tropa de choque e entre eles uma grande massa que quer, mas não encontra uma terceira via. Só resta o imponderável para salvá-la.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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