A arte de descascar
Pego uma laranja e a descasco com faca sem acidentes de percurso. Consigo essa façanha após uma vida inteira descascando laranjas, como o pianista do filme Feitiço do Tempo. Não posso garantir que consiga fazer o mesmo com um abacaxi, por isso nem tento. Frutas são coisas esquisitas, do ponto de vista logístico. Chego a pensar que a natureza nos sacaneou em boa parte delas.
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Se a natureza fosse perfeita, como dizem – uma grande bobagem, por sinal – melancia vinha com alça e o abacaxi viria em gomos, como na bergamota (mexerica). A minha expertise de descascamento de laranjas levou décadas para ser aperfeiçoada. Lembro quando eu era piá, a consternação que eu sentia quando a casca caia no chão após uma ou duas rodadas da faca.
Um famoso criminalista de Porto Alegre usava a técnica da laranja para distrair os jurados. Enquanto o promotor perorava, ele se punha a descascar lentamente uma laranja de umbigo, operação que ele fazia em um ângulo que os jurados podiam ver. E o advogado era tão bom criminalista quanto descascador, nunca deixava cair a peteca, ou a casca. E o promotor falava para poucos porque os jurados estavam esperando a interrupção do corte. Nunca aconteceu.
De onde se conclui que, para ser um bom advogado criminalista, descascar laranja com perfeição pode ser uma boa estratégia na defesa de réus.
Albrecht, tinha aquela do advogado que fumava um charuto com um arame dentro. Ficava fumando e os jurados xuliando que a cinza caísse… o resto tu sabes! Um abraço desde o Caí , onde também temos laranjas)