A dívida da Igreja
O escritor e gênio argentino Jorge Luiz Borges faleceu há 30 anos, completados ontem, para ser exato. Tem uma entrevista dele que jamais esquecerei. Em meados dos anos 1980, a maioria dos países latinos e alguns europeus estavam afundando por causa da dívida externa, contraída em petrodólares, que a correção cambial catapultou aos cornos da lua.
Borges foi entrevistado pela revista Senhor, depois comprada pela IstoÉ. A repórter perguntou a Borges porque a América Latina chegara a esse ponto. Por causa Igreja Católica, da cultura católica, respondeu o escritor sem titubear. A jornalista ficou surpresa.
O entrevistado explicou que essa cultura deixava os governantes irresponsáveis, porque bastava se confessar, pedir perdão e zero a zero bola ao centro. Ela então achou isso cartesiano demais. Pediu um exemplo. O argentino então perguntou.
– Qual o mais europeu, mesmo sob o tacão da União Soviética, que tem a maior dívida externa?
– A Polônia.
– E qual o país que tem o maior número de católicos em relação à população?
– A Polônia – capitulou ela.