Tolerância zero
A sinceridade alemã é conhecida por todos, sinceridade que às vezes pode ser entendida como grosseria. Mas não é. O alemão inventou o Tolerância Zero, e faz bem. Conto um causo acontecido em 1974, ano em que se comemorou o Sesquicentenário da Imigração Alemã no Brasil.
Para marcar a data, um grupo de gaúchos preparou o Álbum do Sesquicentenário, um livro fartamente ilustrado com texto bilíngue, e caro pra caramba. Foi lançado em festa no Palácio Piratini.
Alguns meses mais tarde, visitei meu pai na cidade de Montenegro. Ele então me contou que fez das tripas coração para comprar a obra. Puxa, pai, se querias tanto eu o compraria, falei.
– Não precisava, até porque eu nem o li. Mandei o Álbum para o prefeito da minha cidade na Alemanha.
– E ele gostou?
O pai ficou ligeiramente embaraçado, embaraço que logo se converteu em uma sonora gargalhada. Pegou uma carta.
– Leia o que ele respondeu.
Na carta dizia que o prefeito agradeceu muito o presente do meu pai e que tinha doado o livro para a biblioteca pública da cidade “apesar dos terríveis erros em alemão”.