A Arrancada
Já trabalhei num setor de banco que se chamava de Arrancada, lugar destinado para os novatos e os incorrigíveis – não se exigia grande especialização. Até que não fui tão mal, porque antes de sair do falecido Banco da Província, cheguei a ser assistente da gerência da matriz, na esquina da 7 de Setembro com Uruguai, hoje HSBC, Centro de Porto Alegre.
Quem olha o prédio observa que, acima da sobreloja e seu alto pé direito, há janelões enormes, área que ocupava todo o terceiro andar, segundo se lia no elevador. Abrigava a chamada Cobrança, onde se atendia clientes que queriam pagar duplicatas, promissórias e outros títulos de crédito. Arquivos enormes lotavam o andar inteiro.
Por que Arrancada? Simples. No documento a ser pago, o banco grampeava um impresso interno que continha todos os dados, valores, datas etc. Então eu meia dúzia que atendiam no balcão tínhamos que arrancar esse impresso e encaminhar ao caixa para ser pago.
No início, eu não arrancava bem. Tinha que ter o jeito com aquelas espátulas específicas, mas depois de um certo tempo, tornei-me veloz na arte de arrancar grampos. Às vezes, com a unha mesmo.
Eu era rápido, cara. Se arrancar grampo fosse modalidade olímpica, eu teria ganho ouro, pode crer.