• Toda ferramenta é uma arma se você a acreditar como tal.

    • Ani DiFranco •

  • A alegria das pequenas coisas diárias

    Publicado por: • 1 nov • Publicado em: A Vida como ela foi

    Ouvi essa frase de uma francesa, cuja família é proprietária de uma mansão centenária na Costa Azul da França, contando como foi sua infância na casa e na beira do Mar Mediterrâneo. Especificamente, ela contou das pequenas alegrias que uma criança tem nas coisas mais banais que nós adultos não curtimos mais.

    Como me senti solidário com ela. Um tufo de grama vira a floresta Amazônica, um pedaço de madeira lembra algum animal, um arbusto se transforma em árvore gigantesca. Lembro do meu primeiro “automóvel”, um caixote de madeira, uma direção pregada em estaca fincada no chão, os pedais duros em forma de “T”, um acelerador laboriosamente fabricado usando pedaço de câmara de bicicleta para fazer as vezes de mola.

    Se ela tinha o Mediterrâneo, eu tinha as areias brancas de Tramandaí – por que não são mais brancas como lembro? O cheiro da maresia parecia mais forte, mas era bem-vindo. As pequenas conchas, o contato com a primeira onda, espetar o dedo na areia, cavoucar um braço para vê-lo se encher de água salgada. Meu Deus, como eu curtia essas pequenas coisas diárias, fosse na praia ou no meu reino particular da São Vendelino que não volta mais.

    Então começa a tristeza de não ter mais a alegria das pequenas coisas diárias.

    Imagem de internet

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  • Ventilador que não ventila

    Publicado por: • 31 out • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    Se tem uma coisa na política brasileira que nunca muda e nunca mudará é o processo de escolha do primeiro escalão. Desde que me conheço por gente, sempre existiram os oferecidos, os nomes ventilados pela imprensa que não se confirmam, as surpresas quando sai o listão oficial. E quando dá errado, as redações amaciam a explicação com explicações tipo “surgiram entraves na última hora”, ou “pressão da base”.

    Imagem: Freepik 

    Informação que não informa

    Costumo dizer que o lugar mais mal informado do mundo é redação de jornal, especialmente. Tem que ser entendido como verdade relativa, quase metáfora. Eu disse quase. A história está prenhe de casos em que até o governador ou presidente nem mesmo sabia que fulano ou sicrano estaria no primeiro time.

    Não penso, logo existo

    Além disso, tem aquela coisa de, por telepatia ou por telemetria, contar como o governante reagiu diante uma informação ou o que ele pensou. Não lembro bem, mas acho que foi João Batista Figueiredo que contou como começava o dia. “Primeiro vou ler os jornais para saber o que eu disse ou penso.”

    A procissão de QI

    O velho “quem indica”. Escolher os principais componentes do novo governo é uma tarefa árdua. Tenho pena do eleito. Imaginem a pressão que ele recebe do partido, das famosas bases, dos que o auxiliaram na campanha ou pensam que ajudaram, amigos de infância, parentes próximos e afastados, amigos de ocasião dos quais ele nem lembrava mais. Nossa, deve ser um inferno.

    Frases fatais

    Só mudou uma coisa: ler currículo enviado e recomendado pelo estafe. Até leem, mas como hoje não existe mais privacidade, a mídia se encarrega de divulgar os podres dos eventuais escolhidos. Por incrível que pareça, a ordem das frases altera o produto. Vou dar um exemplo.

    Você precisa empregar alguém e pede que mandem uma opinião sobre o gajo. Aí o cara escreve “ele é muito bom, mas bebe”. Mas se eu inverter e disser “o cara bebe, mas é muito bom” muda tudo, não é mesmo?

    Meio copo vazio

    O desemprego caiu 11,9%, mas ainda atinge 12,5 milhões de brasileiros. O PIB tem expectativa de maior crescimento – de 1,34% para 1.3%, mas

    Meio copo cheio

    Tudo o que se noticia neste no País tem que ter um porém ou mas. Nunca está bom o bastante. É claro que, nos dois casos, assim não está realmente especial de primeira, mas existem formas e formas para ressaltar uma condição. Do jeito que esse vício predomina, parece até torcida contra.

    Pior…

    …como dizia o Júlio César, um taxista amigo meu, pior que é…

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  • Quem admira as cachaças que eu bebo não sabe os tombos que levo.

    • Filosofia de bar •

  • O limbo

    Publicado por: • 31 out • Publicado em: A Vida como ela foi

     Ninguém mais fala em breakfast. Dizemos happy hour, brunch, coffee break, mas café da manhã segue em português.  À primeira vista, entendo que ou emparelha tudo ou deixa tudo em português. Mas sei o motivo. Ao contrário de 10, 15 anos atrás, quando era comum as empresas apresentarem alguma novidade ou balanço para a imprensa, hoje o número é bem menor. E aí vou dizer uma coisa jurando com a mão na Bíblia: ninguém oferecia um café da manhã melhor que o Plaza São Rafael daqueles tempos. Ovos mexidos sempre no ponto, salsicha da buena, frutas sempre maduras. Você tem alguns termômetros para ver se o café da manhã é do bem: o melão espanhol. Quando está maduro, vai firme que o resto é bom. Quanto aos ovos, é uma ciência fazê-los bem feitos. Os comuns são quando o presunto é apresuntado e o queijo é comum com mesmo gosto de isopor. É o grosso da oferta.

     Eu ainda peguei o tempo dos ovos quentes servidos em um suporte com a casca quebrada em cima, para enfiar retângulos de pão. Essa refeição entrou na mesmice do trivial, o de sempre, talvez não ruim mas apenas médio. Um exemplo de capricho é o Hotel Serra Azul, de Gramado. Aliás, eles se espelharam no Plaza dos anos 1970 o seu, vá lá, benchmarking.

     Meu Santo Graal de comidinhas perdidas é o coquetel de camarão do falecido Plazinha, na rua Senhor dos Passos. Nunca, em lugar nenhum que eu conhecesse, se fez algo tão especial. Mas o tempo passa, o tempo voa, e tudo hoje é regular, nem ruim, nem espetacular. Em matéria de serviços, salvo estabelecimentos A ao cubo, tudo é médio, massificado.

     Combinemos: aquele apresuntado que é sobra de presunto e queijos comuns sem graça e sem sabor não são coisa que se apresente.

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