A cobra do supermercado
Nos anos 1980, publiquei uma nota no Informe Especial do Jornal Zero Hora alertando contra um boato que grassava, o de que uma cobra havia picado uma criança na gôndola de verduras de um supermercado de Porto Alegre. Não fazia o mínimo sentido, porque a todos que ligavam eu perguntava se haviam visto o caso.
Nenhum deles viu, era sempre o amigo do vizinho do porteiro do prédio ao lado da madrinha de uma amiga da tia que ouviu de um amigo que um frentista tinha ouvido de um cliente. Repeti com ênfase, no final da nota, que era fria.
Ora que. Aí mesmo que a boataria aumentou e se espalhou por todo o Estado. O Real, que era a maior rede de supermercados da época, teve que publicar a pedidos em duas cidades do interior onde tinham lojas, negando o ocorrido. O fascínio do povaréu por histórias fantásticas é imortal.
Poucos meses depois, aconteceu algo semelhante, que também comentei na página 3 da ZH. Valeu-me ameaça de excomunhão do padre da Igreja Santa Teresinha. Mas essa já é outra história que conto amanhã.
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