Um exercício de flagelação

9 ago • NotasNenhum comentário em Um exercício de flagelação

Confesso que gosto de olhar os programas sobre cozinha/culinária na televisão por assinatura, mesmo não sabendo nem fazer ovo cozido. Sou um desastre nas panelas. Até mesmo para acender o fogão tenho que pesquisar antes qual o botão certo. Mas gosto mesmo assim, embora seja um exercício de masoquismo.

Suruba de molhos

Você vê aquelas gostosuras todas sendo preparadas e tem que ficar no seco. Não é exatamente algo racional. Todavia, algumas misturebas, especialmente na culinária norte-americana, são de revirar o estômago.

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Faz parte do hedonismo norte-americano acrescentar ingredientes absolutamente dispensáveis quando não nocivos para o sabor. Por exemplo, um simples hambúrguer levar quatro tipos de queijos, três ou quatro tipos de pimentas e outros tantos de molhos.

Tenham dó. Tira ou mascara o gosto do principal, que é a  carne.

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Cada país com sua cultura. Não duvido se um dia não criarem molho de bolinha de cinamomo. Às vezes, adicionam temperos nada a ver misturados com esquisitices. E os que comem essa gororoba precisam dizer “genial!”.

A genialidade do incompreensível

Faz lembrar os anos 1960, quando o cinema brasileiro foi contaminado pelo cinema europeu, francês e italiano, principalmente, filmes cabeça sem cabeça nem pé. Como era politicamente correto, éramos quase obrigados a entrar em análises incompreensíveis.

No Cine Vogue, um cinema de bolso na avenida Independência, Porto Alegre, especialista em passar filmes do tipo, era comum sair da sala e comentar o filme no Bar Stylo ao lado. “O filme é uma bosga, mas o diretor é genial!”.

Com a comida é a mesma coisa. Esses Chefs criam certos pratos que são bonitos, mas ordinários. A comida é uma merda, mas o Chef é genial.

Muy amigo, muy amigo…

O brasileiro é muito bom na criação de piadas relacionadas a algum assunto momentoso, excluindo as inevitáveis piadas prontas. Mas em matéria de piadas argentinas somos bons mesmo. O papa Francisco que o diga. Contaram para ele que seu primeiro milagre ainda em vida foi fazer brasileiro gostar de argentino.

A fonte ainda não secou e duvido que seque no médio prazo. De repente, até no longo. Não sei se ele vai gostar dessa que corre à boca pequena nos corredores do Vaticano: Não havia um argentino tão perto de Cristo desde Judas. Essa foi no rim.

Por falar em argentinos…

No final dos anos 90, conheci uma argentina sem-teto de meia idade na Praça XV que era psiquiatra. Até mostrou documento funcional.       

Chamou minha atenção a qualidade das suas roupas, embora desmerecidas pelo tempo. Não pedia dinheiro, o que era espantoso.

Mostrando um rosto cheio de rugas e nenhum traço de sorriso, indo e vindo do Mercado Público fui ganhando sua atenção. 

Aos poucos ela se abriu. Uma desilusão amorosa a fez desistir de tudo. Ao saber que eu era jornalista, pediu só uma coisa, que eu não divulgasse que ela recebia, de tempos em tempos, cinco mil dólares da família, que morava em Buenos Aires.

Eu seria um maluco maldoso se desse o nome dela.  

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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