Terceiro tempo

14 fev • NotasNenhum comentário em Terceiro tempo

Às vésperas do terceiro ano novo brasileiro, o depois do Carnaval, teremos um apagão geral durante os quatro dias em que o tríduo momesco preenche corações e mentes. Nada mais a ver com os carnavais de antigamente, no sentido até os anos 1980, quando havia regras até para pular carnaval.

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Hoje ninguém mais pula, a não ser quando pula da cama. Os carnavais dos clubes sociais, União, Clube do Comércio, Sogipa, Teresópolis, e outros eram disputados a tapa. O que sobrou é um pálido arremedo dos tempos gloriosos.

Quem não era sócio do clube, para entrar nos bailes precisava ter pistolão, e dos grandes. O mesmo ocorreu com os clubes da praia, SAPT (Torres), de SACC, Capão da Canoa, e a SAPT, de Tramandaí. Entrar de penetra era façanha comemorada e contada para amigos, parentes e toda a vizinhança.

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A rapaziada engendrou toda sorte de macetes para driblar a muralha da portaria. Mesmo lá dentro, ainda se corria risco de ser descoberto – e expulso.

O carnaval de rua morreu. Bairros, como o quarto distrito, tinham o seu próprio, não estava nem aí para o Centro Histórico que ainda era habitável e civilizado.

O Rei Momo mais longevo foi Vicente Rao, que reinou por uns 30 anos. A cerimônia em que o prefeito entregava as chaves – na realidade, um chavão enorme e simbólico – da cidade para o Momo era assunto de todos os meios de comunicação, com fotos e cobertura ao vivo das poucas emissoras de TV da época.

As drogas consumidas eram poucas e leves. Cheirar lança-perfume da Rhodia era esporte nacional.

Nos anos 1960, começaram a aparecer os comprimidos como o Dexamil  para deixar você acordado. Misturado com bebida alcoólica deixava o sujeito falando até com estátuas de mármore. Drogas injetáveis destes mesmos comprimidos eram usados por viciados que não precisavam da desculpa do carnaval.

Inocência recreativa

Essa barra pesada de então perto de hoje era coisa de criança. Quem se picava era o pessoal do baixo mundo. Depois veio a disseminação da praga que atingiu um estágio que todos conhecemos. Não há mais inocência recreativa.

Mamãe, eu queria

Bem antes dos folguedos, marchinhas e sambas eram divulgados pelas rádios e, conforme pegavam, eram controladas pelo povo. Pegavam tão bem que são cantadas até hoje. Até porque sumiram os compositores deste gênero. Mamãe eu quero, Ô Jardineira, Cachaça Não é Água são eternas.

O último dos moicanos

O último grande sucesso de música de Carnaval foi cantada por Zé Keti no Carnaval de 1970. E é realmente muito bonita e com letra envolvente, falava de Pierrô e Colombina.

Quem não lembra Máscara Negra, de “Tanto riso, ó/Quanta alegria/ mais de mil palhaços no salão/vou beijar-te agora/Não me leve a mal/Hoje é carnaval. Zé Kéti foi um compositor profícuo e muito inspirado.            Morreu, Malvadeza Durão. Valente mas muito considerado

Cheiro de lança no ar

Os carnavalescos mais velhos daqueles anos tinham saudades do carnaval de décadas anteriores. A vida se repete mas como farsa. Acabou-se tanto o que era doce quanto o que era triste. O que seria da alegria se não fosse a tristeza.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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