Do trotoar ao motel da Marli

26 dez • A Vida como ela foiNenhum comentário em Do trotoar ao motel da Marli

Até a entrada dos tempos modernos, as práticas antigas de comportamento social até os anos 1960, não raro, obedeciam ao que hoje conhecemos como “me engana que eu gosto”. Valia inclusive e principalmente para a prostituição em Porto Alegre.

As prostitutas se dividiam em dois grandes grupos, as que “se viravam”, na gíria daquele tempo em cabarés, conhecidos como lupanares ou casas de tolerância, e as moças que exerciam a profissão nas ruas. O eufemismo para esse grupo social era “arrodear a bolsinha”.

Geralmente pendurada pelos ombros, onde elas guardavam documentos – Deus m’o livre sair sem eles!- dinheiro e a Carteira da Saúde. Esta era ferramenta de trabalho, cuja ausência poderia levar à prisão.

A Carteira da Saúde era expedida pela Secretaria da Saúde, era uma espécie de negativa de doenças venéreas ou DST. A cada 30 dias, elas eram obrigadas a comparecer nos postos de saúde e, de forma gratuita, fazer estes exames, especialmente para detectar o treponema pallidum, causador da terrível sífilis.

Era uma espécie de salvo conduto caso a polícia (Guarda Civil fardada) se encanizasse com elas. Naquela época, o controle de comportamento social (ou antissocial…) era feito por uma delegacia especializada, a Delegacia de Costumes, que além da prostituição cuidava das drogas, incipientes na época, basicamente maconha e anfetaminas como Pervirtin e Dexamil. Misturadas com álcool, deixavam o freguês sem dormir por longos períodos de tempo, hoje também conhecidos como rebite, ingeridos por alguns caminhoneiros para viagens longas nonstop.

As prostitutas de rua faziam o TROTTOIR, palavra francesa que deu origem ao “trotear”. Se uma prostituta ficasse parada atraindo fregueses era cana certa. Mas se elas troteassem nas calçadas arrodeando a bolsinha era uma prova que não exerciam a prostituição.

Isso ficou tão arraigado que, mesmo em décadas mais recentes, estas mulheres ficavam indo pra cá e pra lá. Sem nem mesmo saber porque assim faziam.

Não existiam motéis como nós conhecemos hoje. Nos cabarés havia quartos ou se buscavam pensões.

O primeiro motel de Porto Alegre foi o Marli, por isso que o viaduto Dom Pedro II na Borges esquina José de Alencar é conhecido como Viaduto da Marli. Mas essa já é outra história.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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