Passageiros do acordar
O filme com o título ridículo de “Passageiros” mostra um futuro possível, centenas ou milhares de pessoas viajando em uma nave totalmente automática rumo a um planeta habitável. Todos estão em uma solução que os deixa imunes ao passar do tempo, décadas e décadas. Uma espécie de criogenia, conservar o corpo em temperaturas absolutamente baixas.
Para azar (ou sorte) do casal de protagonistas, eles acordam antes do tempo. Não vou adiante, mas quem não viu pode imaginar o drama que vai se desenrolar.
Fiquei matutando se e quando essa possibilidade existir, – e duvidar, quem há de? – os criadores da tal tecnologia poderiam oferecer pacotes ´para os humanos na Terra mesmo. Por exemplo, entra um governo que não se gosta, fica-se imerso numa solução que para o tempo e o envelhecimento com programação de despertar quatro anos depois.
Supondo-se que não haveria superpopulação crescente no planeta, como se acordaria desta viagem? Para isso, precisamos da lagartixa.
O efeito lagartixa
É uma metáfora para mostrar como nos acostumamos paulatinamente com algo ruim no decorrer de determinado tempo. Como colocar uma lagartixa em uma panela com água fervendo. O animal pula fora rapidamente.
Ao contrário, se a água for aquecida bem devagar até o ponto de fervura, e nela estiver uma lagartixa, o pequeno ser morrerá queimado. É uma teoria interessante para quem acredita no inferno físico, aquele que a Santa Madre mudou radicalmente. Não seriam castigos como morrer sem nunca morrer queimado. Mas algo nebuloso que seria a “privação de Deus”.
O inferno que perdi
É uma possibilidade preocupante. É o fim da teoria de que alguém que pratica o mal vai ser castigado na outra vida, como nos ensinaram quando éramos crianças. Quantas e quantas vezes acordei molhado de suor com pesadelos que me colocavam num caldeirão de azeite fervente e sendo espetado com tridentes talvez fabricados pela Tramontina, que duram para sempre.
Só os diabos se alternam na tarefa. Afinal, eles também são filhos de Deus e precisam descansar de vez em quando.
Se essa história de Juízo Final for verdadeira, com o fim do inferno físico ele perderia a razão de ser. Iríamos todos para o céu, sem a “privação de Deus”, ou para uma espécie de limbo, esse sim previsto pela Igreja Católica.
O que posso dizer que eu e milhões fomos vítima de uma enorme sacanagem, uma videocassetada cósmica que nos encheu de terror durante anos, enquanto os ateus dormiam tranquilos.
Liberou geral
Atribui-se ora a Dostoiévski ora à pensadora alemã Hannah Arendt a frase “Se Deus não existe tudo é permitido”. Eis um conjunto de palavrinhas que é ponto de partida para tratados e mais tratados e teses de doutorado.
O lado perverso
De onde se conclui que não existe lorota maior que a máxima o mal será castigado na outra vida e assemelhadas. O que nos segura, então? O consciente, o médico do escritor Robert Louis Stevenson, contraponto do monstro. Ou seria o contrário, sei lá eu.
Dormir
Se eu quero dormir pelos próximos quatro anos, é uma possibilidade dentro da ficção científica que ainda não foi inventada. Então não me venham de borzeguins ao leito… De repente, gostaria mesmo de pelo menos dormir bem por algumas horas..
Nosso querido dentinho
Já repararam como as dentistas gostam colocar todos os procedimentos no diminutivo? Olha eu vou cuidar do seu dentinho, mas antes terei que fazer uma injeçãozinha, mas não te preocupa é apenas uma picadinha na sua gengivinha, que vai ficar bem anestesiasinha e vai doer só um pouquinho….
Sempre acontece o contrário.
Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.
