Panorama visto da ponte

6 ago • NotasNenhum comentário em Panorama visto da ponte

Originalmente, é título de peça teatral escrita por Arthur Miller, na época casado com Marylin Monroe, o velhote safado. Assim pensava eu na época, hoje entendo o velhote. Atualmente, o nome é apenas um posto de observação para ver o Brasil como ele é. Estou na ponte, insisto, não no meio do turbilhão.

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O meu milharal

Mesmo com as trocentas espigas de milho no paiol da minha vida, ainda fico perplexo com as coisas que vejo. E tenho perplexidade de adianto. Sei que amanhã tem mais. Estamos no meio de uma guerra em que bolsonaristas e antibolsonaristas se matam a pau. STF, TSE, uma parte do empresariado, lulistas, petistas, comunistas, artistas e até vegetarianos querem ver o capitão apeado do cavalo.

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O grupo maior da direita centrista ou moderada é aquele formado por gente que cochicha entre si “por que cargas d’água o homem não fica de boca fechada?”.

O muro e a polvadeira

Também enxergo, por entre a polvadeira, o muro que separa o desejo e a realidade. Impeachment com o Centrão só se a caldeira estourar. Eu ia usar a figura da caixa d’água, mas ela tem ladrão, não quero ser mal entendido.

Do lado do capitão, eu o vejo esticando a corda até o ponto de arrebentação, ele e os 30% ou 38% que são fiéis escudeiros. Não vejo paz no horizonte.

Ou vai ou racha

Nunca vi tamanha carga de cavalaria contra um presidente, que, por sua vez, insiste em atacar sem tréguas. O que estou presumindo que não é improviso, é coisa pensada.

Onde andarão?

Em todas as pesquisas que dão como certa a vitória de Lula, fico cismado com os que avaliam o governo como “regular”. Não é bom, mas também não é ruim. Paradoxalmente, “regular” é ruim quando o pesquisado tem acima de 50% de “bom”.

A praça era do povo

Olho ponte abaixo e vejo multidões fazendo protestos, mas não vejo o povão. Nas Diretas Já, no início dos anos 1980, ele estava lá. Por enquanto, não o vejo. Pode estar aquecendo. Ou não. O diabo é que o engajamento na imprensa não permite saber o que se passa no Brasil profundo. Não dá para ver nada além da Avenida Paulista. E não é pelo emagrecimento das redações.

Entre um protesto e outro, lideranças de esquerda reconhecem entre si que, sem apoio popular, nada feito. Também não precisa ser nenhum Lênin para chegar a essa conclusão.

Sem atentados

Por sinal, pode alguém ser contra o voto auditado ou impresso, no problem. Até eu tenho minhas dúvidas. Mas daí a dizer que é um atentado contra a democracia, como dizem alguns juristas e ministros das cortes superiores, vai uma distância enorme. Menas, como diz o povão. Até dá para desconfiar.

O Brasil real

Qualquer pessoa física ou grupo que veja seus interesses contrariados logo grita que é um atentado à democracia. Se fôssemos um país com ataque de sinceridade, diriam “quero o meu, e o resto que se ferre”.
fotofofoca (5) (1)

Desço a ponte

E o que vejo no Brasil de hoje? A substituição da democracia pelo democratismo, filha bastarda da Constituição de 1988, que só previu direitos sem deveres.

Subo a ponte

Olho para os lados. Vejo uma estrada à direita e outra à esquerda. E uma queda para o fundo, cheio de variante Delta.

O que não dá para aceitar é o presidente Jair Bolsonaro dizer que pode não respeitar o resultado das eleições de 2022. Capitão, o senhor pisou em toda plantação de tomates.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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