Pensamento do Dias
Já apelidei a nova nota de 200 reais: Lobão.
Em outros tempos, o Acampamento Farroupilha já estaria botando gauchada autêntica e disfarçada pelo ladrão. Até o 20 de Setembro seria a repetição de edições anteriores, um Festival de Defumação misturada com poeira. Em caso de chuva, com barro. A cada 20 metros se alternam piquetes, galpões frios como uma nota de 30 reais de bancos, empresas e órgãos públicos.
Para quem não é daqui, era preciso chamar atenção que 80% dos acampados eram funcionários públicos em licença-prêmio ou de meio expediente. Deixavam a pilcha na cadeira da repartição e se mandavam para a fumigação. Dos 20% restantes, 10% só queriam saber onde ficava a Rodoviária; os outros 10% queriam achar a saída.
Acampar no Parque a pretexto de honrar a tradição tem vários efeitos colaterais benéficos. Por exemplo, fugir da nega veia, também conhecida como a perpétua. Por sua vez, a nega veia tira um tempo do maridão. Se voltasse para casa de noite, teria que aguentar bafo de cachaça com bigode cheirando a gordura de borrego. Nem a santa das santas aguenta.
Aliás, a gauchada casada há mais tempo gosta de chamar a legítima de Santinha. Às vezes ela é, às vezes ele pensa que ela é.
O ápice é o Desfile do 20 de Setembro. A bordo dos cavalos, às vezes tontos pelo cheiro que vem da bombacha e da cueca samba-canção que têm saudades do tanque, lá se vão eles. Como nos versos do pernambucano Acêncio Ferreira.
Lá vem os gaúchos em louca disparada
Pra quê?
Pra nada…
Sirvam nossas façanhas de exemplos para toda a terra.
Ao que um gaiato modificou para:
Sirvam nossos exemplos de façanhas para toda a terra.
Certa vez perguntei ao DJ Claudinho Pereira se ele estava de boa. Resposta:
– Tô igual a cavalo no desfile do Vinte de Setembro. Cagando e andando, mas sendo aplaudido.
Se você olhar muito para o abismo, o abismo olhará dentro de você.
* OAB/RS informa semanalmente o funcionamento das comarcas, conforme atualização semanal das bandeiras do Estado. Após um diálogo intenso entre a OAB/RS e o TJRS, o judiciário definiu a retomada do expediente presencial e dos prazos de processos físicos respeitando o Modelo de Distanciamento Controlado do Governo do Estado com o sistema de bandeiras. Para saber masi, acompanhe: clicando aqui.
Quando fui comentarista na TV Pampa, em 2000/1, resolvi ir de táxi em vez de carro. A empresa pagava. Horários sempre de pico, melhor desse jeito. Eu conhecia um taxista gurizão, o Júlio. Flor de pessoa, mas com um defeito: nunca chegava na hora marcada. Fui enchendo as medidas, sabia que ele pegava corridas mesmo sabendo que chegaria atrasado no meu prédio.
Um dia, peguei o Júlio, e com toda gravidade fiz ele ver que arriscava perder cliente certo, que pagava a semana adiantada, que eu não podia entrar atrasado no ar. Ele jurou que isso nunca mais se repetiria. Então tá, eu falei. No dia seguinte, o Júlio se atrasou de novo. Quando o táxi chegou, rodei à baiana.
– Júlio, eu avisei. É o fim da parceria. Desta vez, o copo transbordou.
– Mas seu Fernando, minha tia…
– Tua tia deve ser mentirosa como tu – atalhei. – Vamos pela última vez, e troca de estação, bota na Rádio da Universidade. Só faltava ter que ouvir esse falso pagode.
Cada vez que ele queria falar, eu cortava o papo pela raiz. Com a cabeça quente, decidi curtir um concerto para trompete de Haydn. Absorto na peça, falei alto comigo mesmo.
– Algumas vezes, o Haydn é melhor que o Bach…
Era a deixa que o Júlio esperava. Alvoroçou-se.
– Pior que é! Pior que é!