Publicado por: Fernando Albrecht • 24 jul • Publicado em: A Vida como ela foi •
O prédio que abrigará uma Loja Lebes no Centro Histórico e Porto Alegre quase foi demolido. A edifício Guaspari foi construído em 1936 e abrigava a loja de vestuário de mesmo nome. Poucos anos depois, a prefeitura cismou de prolongar em linha reta a avenida Borges de Medeiros até a avenida Mauá. Ocorre que o traçado cortaria uns bons metros de um canto da Guaspari, e então a empresa foi à luta. Por precaução, comprou uma área pequena do lado oposto.
Foi então que descobriram que, se o traçado da Borges fosse mesmo reto, teriam que ceifar parte do Mercado Público, o que obviamente seria um desastre. Para desfazer a mancada, tempos depois, apareceu um homem na loja e pediu para falar com Rafael Guaspari. Entregou a ele um envelope com carta e falou que iria pegar algumas roupas. Na realidade, fez um rancho, ternos, sapatos, camisas etc. Na volta, o homem do balcão fez as contas e calculou o preços das compras.
– O senhor não entendeu bem. Eu sou funcionário da prefeitura e esta carta libera seu prédio, a Borges não será mais estendida em linha reta. Então creio que mereço uma recompensa e sua loja deve me dar de presente o que comprei.
– Entendo sua posição, e certamente poderia lhe dar uma ou duas peças de brinde, mas não nessa quantidade toda – respondeu Rafael. – Eu tenho sócios e preciso emitir a nota fiscal.
O visitante tirou a carta da mão de Guaspari, recolocou-a no envelope e em seguida no bolso interno do paletó.
– Se o senhor não entendeu, eu não vou lhe dar a carta que impede qualquer ação judicial futura da municipalidade. Quando mudar de ideia me procure.
O empresário não mudou de ideia. Achou que o assunto estava encerrado mesmo assim, mas, 20 anos depois, o então prefeito Célio Marques Fernandes viu a lei original que autorizava a demolição parcial do edifício Guaspari e, segundo a família, teria dito que iria botar a construção abaixo. Foi uma correria para achar a tal carta de alforria em alguma secretaria. Custou, mas, enfim, localizaram o documento.
Estava, havia 20 anos, no fundo da gaveta do tal funcionário. Deixou-a lá sem dar andamento ao processo e se aposentou em seguida.
E a Borges não está em linha reta na parte final. Mas o prédio está como foi erguido.
Foto: Internet, sem indicação do nome do autor
Publicado por: Fernando Albrecht • 1 comentário em A demolição da Guaspari