• Paradas pensativas

    Publicado por: • 14 dez • Publicado em: Caso do Dia

     Algumas mudanças na vida pública só não me deixam perplexo porque gastei toda minha cota de perplexidades ao longo da vida e carreira. Sempre digo que já vi boi voar e passarinho pastar, então não me assusto mais com borzeguins ao leito. Algumas destas novidades nem impactam em um primeiro momento, só nos damos conta quando se pratica o clássico e insubstituível parar para pensar.

     Já nem falo em parlamentos que parecem feira livre, banca com um parlamentar atrás do balcão e, na frente, uma placa de “vendo voto”, coisa que, até os anos 1980, levaria muita gente a pedir pena de morte para o sujeito. Também as propinas e, sobretudo, o enorme valor desses malfeitos me causam espécie.

     Mas uma dessas paradas pensativas me deu uma penugem de assombro, coisa tênue. Sabemos que candidatos contratam agências de publicidade ou especializadas em marketing político, mas não recordo de político que tenha contratado uma assessoria de imprensa EXTERNA quando a casa lhe dá de graça assessores à sua livre escolha. Temos pelo menos um caso em Porto Alegre. Inunda as redações com releases sobre os feitos e até pensamentos do cara. É algo completamente fora da curva.

     Moral? Não tem moral. Loucura prescinde dela.

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  • A primeira ficha

    Publicado por: • 14 dez • Publicado em: A Vida como ela foi

     Que o espírito de Natal já se esfumaçou há horas até as renas do Papai Noel sabem. Até elas, por sinal, já não têm esse espírito que outrora foi tão mágico para quase todos nós. A noite insone no dia 23, a Noite Feliz que em casa se cantava em alemão, olhos arregalados ao abrir o presente, o pinheiro cheio de bolas de vidro feitas pela Fábrica Natal, as velas acesas pingando cera em cima do presépio, laboriosamente construído com um espelho à guisa de laguinho, abundante barba-de-pau colhida por nós, a Missa do Galo antes de voltar para casa e abrir o presente de olhos arregalados despedaçando o pacote, poder brincar até tarde e a alegria ao acordar na manhã do dia 25 sabendo que não fora apenas um sonho.

     Alguns marcos dessa coisa mágica que o Natal já foi estão nítidos na minha cabeça. O fim da crença no Papai Noel, as primeiras desilusões da vida, como a cena que tenho na retina até hoje. Meu primo Günther Albrecht recém-chegado, sem eira nem beira, da Alemanha, pais mortos nos bombardeios aliados na Alemanha, sem emprego, sem família, sem nada, sem Papai Noel, a não ser o abrigo que o tio dele, meu pai Francisco José, lhe ofereceu, em São Vendelino, até que ele se aprumasse na vida. Que noite triste aquela em que o procurei e o encontrei chorando convulsivamente num canto da casa.

     Acho que foi naquela noite de 24 de dezembro, na segunda metade dos anos 1940, que senti, pela primeira vez, o que era dor de verdade. Não dor física, dor de coração, e coração solitário ao extremo. Então senti que o mundo não era justo, que eu era muito feliz por ter meus pais perto de mim.

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  • Os canalhas são sempre sociáveis.

    • Arthur Schopenhauer •

  • O muro I

    Publicado por: • 14 dez • Publicado em: Notas

     Um em cada cinco gaúchos é aposentado e pensionista, o que bem mostra o que nos espera no futuro, logo ali adiante: não haverá dinheiro para pagar todos. No Estado, a proporção já é de mais de 50%, e o futuro chegou ontem. A propósito desta alarmante progressão, agravada pelo fato de a expectativa de vida ser cada vez maior, eis o resumo do drama.

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  • O muro II

    Publicado por: • 14 dez • Publicado em: Notas

     Nos anos 1980, o presidente de uma multinacional de tabaco contou a este colunista que ele pagava mais de 20% do seu salário para o fundo de pensão da sua empresa, e que, no fim do ciclo, se aposentaria com 60% do salário seco da ativa. Conhecendo a realidade previdenciária brasileira, ele foi claro: “Um dia vocês vão bater no muro.”

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