• Eu, ator

    Publicado por: • 13 jul • Publicado em: A Vida como ela foi

    Já fui ator de comercial de TV, vocês sabem, mas lembrei que também já fui ator de teatro. E precoce. A peça tinha o título “O crime não compensa”, coisa mais comum que sorvete de creme. Mas deem um desconto, afinal eu tinha 13 para 14 anos. No tempo do Ginásio São João Batista, de Montenegro, um colega, o Carlos Alberto de Oliveira, nos garantiu que daria um bom dinheiro, convidando a vizinhança, pais e parentes.

    Ele mesmo escreveu a peça em três atos, os mais curtos da história da dramaturgia mundial. Fiquei contente que meu papel era de detetive, mas quem matava o criminoso era o Carlos Alberto. Não entendi, mas chefe é chefe. Eu só tinha que me abaixar junto ao corpo estirado no chão – acho que era o meu amigo Laio – fingir que fechava as pálpebras e dizer uma frase que certamente, pensei eu na época, entraria para a história como o to be or not to be, escrita pelo Bardo.

    – Pobre homem!

    Brilhante, não? Mas ninguém aplaudiu e nem me cumprimentou após o espetáculo. Muito menos pediram autógrafo, para minha desilusão. O que eu sei é que o Carlos Alberto ficou com a metade da renda dizendo que “o teatro”, a garagem da casa, era dele. Deduzida as despesas como a graxa que comprei para pintar um bigode, sobrou dinheiro para comprar uma Coca-Cola, dois quindins e um pastel vendido pelo biscateiro Balaio Bocó.

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  • O epicentro do sabor

    Publicado por: • 12 jul • Publicado em: A Vida como ela foi

    No dia do acidente de Orly, eu trabalhava como um dos produtores da A Grande Noite, um talk show de luxo em cenário idem, comandado pelo publicitário e empresário Ernani Behs. Formidável pessoa. Ia ao ar aos sábados (ao vivo) na TV Difusora de Porto Alegre, comandada por dois amigos já falecidos, Salimen Jr e Walmor Bergesch – a Ordem dos Capuchinhos tinha o controle acionário. Era líder folgada de audiência, a Globo era segundona. A emissora inaugurou um novo formato de telejornal, o Câmera 10. Sim, já fomos pioneiros em muita coisa. Infelizmente, hoje vamos no arrasto.

    Na época, eu também era uma espécie de fact totum na SGB Propaganda, da qual Ernani era diretor. Mas não vim aqui para falar de negócios. O Centro de Porto Alegre – a agência ficava na rua Senhor dos Passos – formigava de gente e bons bar-chopes, bares de hotéis e restaurantes. Um pouco além da rua quedava o bar Hubertu’s, os melhores bolinhos de carne da cidade; um pouco adiante, ao lado das Lojas Renner, um pequeno bar tinha fila de espera para comer as almôndegas. Chamava-se Liliput. O vizinho do outro lado da Renner era a melhor delicatessen que conheci, o Armazém Riograndense com o slogan ”Se não encontrou aqui, não adianta mais procurar”.

    Em frente ao Liliput, o café Haiti virava dia e noite. Quadra e meia adiante, uma singela lanchonete, o Big Ben, produzia as melhores (e maiores) empadas de galinha. Lembro delas até hoje, crocantes, fumegantes.  E isso em apenas duas quadras e meia, nem entrou nas casas um pouco adiante e no resto do Centro.

    É para ver como era Porto Alegre naqueles anos. Foi só um aperitivo.

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  • História com final feliz

    Publicado por: • 12 jul • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    Imorrível mesmo é esse veado-catingueiro. Foi atropelado na Rota do Sol, na Serra Gaúcha, ficou preso nas ferragens do carro, que ainda percorreu 20 Km até achar ajuda para retirá-lo, façanha feita por dois amigos, Samuel Germann e Rodrigo Gross, do grupo Trilheiros do Guará. Para resumir o causo, o cervídeo foi tratado pelo Gramadozoo e, depois de estar recuperado, voltou para o local de onde não deveria ter saído, a natureza.

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    Orly, 11 de junho de 1973

    O dia de ontem marcou 45 anos de um acidente que enlutou todo o Brasil. Um Boeing 706 da Varig, que havia partido do Rio de Janeiro rumo a Paris, teve incêndio a bordo, provavelmente tenha começado no banheiro, situação que obrigou o comandante a fazer um pouso forçado perto do aeroporto de Orly, na França. Morreram 123 passageiros, salvaram-se 11, dez deles tripulantes. O único passageiro que se salvou foi o carioca Ricardo Trajano.

    Causa mortis

    O trágico é que não foi o acidente em si que matou toda essa gente, foi a fumaça tóxica gerada pelos materiais sintéticos usados nos assentos e na decoração da cabine dos passageiros. A partir dessa tragédia, todos os fabricantes de aviões e seus componentes mudaram radicalmente seus materiais. É assim na aviação, um erro serve como lição para que nunca mais aconteça. Veja-se o caso dos Estados Unidos, que não registram um acidente fatal com grandes aeronaves comerciais em nove anos.

    Leila, Regina, Agostinho…

    A comoção se deu não só pelo número de mortes, mas porque a bordo estavam pessoas conhecidas e admiradas em todo o País. A atriz Leila Diniz, formosa mulher, foi uma das perdas – ela estava no auge, na flor da idade. Um socialite muito conhecida e admirada também estava a bordo, Regina Leclèry, bem como o cantor romântico Agostinho dos Santos. Naquele tempo, só pessoas abonadas podiam viajar de avião, e ainda mais para o exterior.

    …e o poderoso Filinto

    Outro ilustre passageiro do voo 820 era o temido Chefe de Polícia Política de Getúlio Vargas, Felinto Müller, considerado o homem mais temido do Brasil nos dois governos do presidente. Foi acusado de entregar para a Gestapo a judia alemã Olga Benário, mulher do líder comunista Luiz Carlos Prestes. A suprema ironia é que Filinto não só participou da Coluna Prestes, em 1925, como foi promovido de capitão a major pelo próprio Prestes.

    1973, o ano da mudança

    O cheiro de 1968 ainda estava no ar em todo mundo, mas o Brasil vivia uma situação econômica confortável. O PIB crescia 8,5% e, após o choque do petróleo determinado pela Opep neste mesmo ano, de 1 dólar por barril (153 litros) para 11 dólares, os países produtores de petróleo, árabes especialmente, se forraram de verdinhas. Foi a época dos petrodólares.

    O pepinodólar

    Foi o início da chegada dos petrodólares, repassados para os bancos brasileiros e empresas clientes através da chamada Operação 63, a juros de pai para filho e com até cinco anos de carência. Mas então veio o pepinodólar, causado pela desvalorização brutal da nossa moeda, gentileza do ministro Delfim Netto. A correção cambial elevou as prestações destes empréstimos à altura do Everest. Foi bom enquanto durou.

    O mico I

    Comentário do jornalista Carlos Brickmann (www.chumbogordo.com.br) sobre o caso do habeas de Lula: “Tudo fica por isso mesmo, enquanto todos se insultam como se fossem o Neymar depois de alguma queda. No dia seguinte, o presidente da FIFA decide que foi gol, e o juiz tem razão. O jogo terminou na véspera – e daí? Os deputados envolvidos ficaram no banco, sentados sobre seus fundos”.

    O mico II

    E prossegue Brickmann: “Não é bem assim. No caso de Curitiba, José Dirceu falou antes da hora, achando que tudo estava resolvido. Lula também achava e dizem que já tinha até arrumado as malas. Numa delas, os livros que estava lendo na prisão”.

    Balanço positivo

    Jornadas Pelotas 11.07 (2)De junho a dezembro deste ano, as Jornadas Brasileiras de Relações do Trabalho vão discutir as mudanças promovidas pela nova lei trabalhista por todo o país. No interior do estado, já foram realizadas 14 edições: Caxias do Sul, Lajeado, Santa Maria, Carazinho, Passo Fundo, Erechim, Santa Rosa, Uruguaiana, Cachoeira do Sul, Capão da Canoa, Santa Cruz do Sul, Canoas e Pelotas (foto), esta realizada ontem. Foram mais de três mil lideranças empresariais e da comunidade em geral presentes. Os eventos reuniram ainda mais de 80 instituições do poder público e da sociedade civil, entre elas, 12 universidades.

    Avançar mais

    O coordenador-geral das Jornadas e idealizador da modernização da lei trabalhista, deputado Ronaldo Nogueira, está satisfeito com a repercussão dos eventos e destaca: “É necessário avançarmos nas reformas para melhorar a vida dos trabalhadores. O Brasil vai gerar, em 2018, mais de um milhão de empregos formais”.

     

    Mais empregos

    Já o desembargador e vice-presidente do TRT-RN, Bento Herculano Duarte Neto, garante que nenhum direito do trabalhador foi retirado. Além disso, mais empregos foram gerados: “A nova lei estimula a criação de mais empregos, mas, para que isso aconteça, é necessário que exista desenvolvimento econômico. E agora existe um ambiente favorável a novos investimentos”, argumenta o desembargador.

    Jornadas na Capital

    As Jornadas encerram os eventos no Rio Grande do Sul com a edição de Porto Alegre hoje, 13 de julho. O evento ocorre no Hotel Sheraton, às 12h.

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  • Algumas pessoas nunca aprendem nada porque entendem tudo muito depressa. 

    • Alexander Pope •

  • A sepultura do Ulisses

    Publicado por: • 11 jul • Publicado em: A Vida como ela foi

    Se existe algo que eu sempre me debruço fascinado são os cemitérios esquecidos do interior do Rio Grande do Sul. Sem querer fazer graçola, quanta vida existe neles. Cada sepultura abriga os restos de alguém que viveu, amou, foi feliz e infeliz, teve ou não família e, certamente, não teve uma morte confortável – pelas estatísticas, apenas 16 em 100 não são mergulhadas em dor.

    Por extensão, curto também acidentes geográficos ou monumentos que relatam batalhas ou guerras do passado. Ninguém levanta um monumento à felicidade na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. No Alegrete, lá para os lados da BR-290 rumo a Uruguaiana, existe o Cerro da Sepultura. Só o nome já atrai. Quem me mostrou o local foi um antigo motorista chamado Ulisses, grande contador de causos, alguns até verídicos.

    Para escapar das sangas cheias de um inverno dos anos 1980, o Ulisses me levou por um caminho alternativo. De repente, ele freia o carro e aponta um marco ou algo que lembra um monumento, de tão destroçado que estava. A história comum, alguém que tombou em combate em revoluções sangrentas costumeiras no passado gaúcho. O local tinha fama de mal-assombrado, outra qualidade que me atrai:

    – E tem tesouro enterrado? – perguntei.

    – Tem mesmo, como é que o senhor sabe?

    Falei para o Ulisses que todas as sepulturas isoladas e todos os restos de algum monumento em lugar ermo têm ouro ou joias enterradas por perto. Ou tinham, porque os ouros enterrados já foram desenterrados. O motorista fez uma cara triste.

    – Mas então não tem tesouro no Cerro da Sepultura? Será que não abriram buracos em lugar errado?

    Levantei o vidro da janela porque entrava um Minuano gelado.

    – Talvez sim, talvez não. Mas Ulisses, deixa eu te dizer uma coisa: tesouro é mais fascinante e excitante enterrado do que desenterrado. Por isso que, no passado, mulheres usando véu pareciam mais atraentes do que sem.

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