Publicado por: Fernando Albrecht • 3 set • Publicado em: Caso do Dia, Notas •
Havia um tema recorrente nas histórias de quadrinhos cujas imagens mostram castelos da Idade Média com seus guardas das madrugadas nas amuradas em que eles dizem “é meia-noite e por enquanto nada de novo”. Pois vivemos algo assim neste Brasil de hoje. O que acontece é o de sempre, nenhuma novidade do front. Bolsonaro cai mais ainda na aprovação, o Congresso fica em ritmo de rame-rame das reformas e assim por diante. Na prática, é a teoria dos Fractais.
DE OLHO NA ÁRVORE
Desde que a teoria apareceu, a melhor analogia ainda é com uma árvore, seu tronco especificamente. Você olha de perto e a casca está cheia de altos e baixos, parecendo que é obra malfeita da natureza. Imprecisa a tal ponto que dá a ideia de quem a começou não tinha projeto e nem sabia o que queria. Pois é precisamente o contrário.
ESQUEÇA O PERTO
Tomando certa distância, observa-se o contrário, o tronco é uma obra precisa e quem o criou sabia muito bem o que queria. Esquecidas as minúcias, o tronco de um vegetal é uma obra perfeita. E neste ponto que a história brasileira e a árvore deixam de ter algo em comum. O Brasil sim é coisa imperfeita e, ao longo da sua história, nunca soube onde queria chegar, salvo no tempo do Império, por incrível que pareça.
A MONTANHA RUSSA
Pois voamos sentados em uma, voando dentro de trilhos em altos e baixos que, ao fim e ao cabo, voltam ao ponto de partida. Perplexos, nos perguntamos o que deu errado na viagem. Quem deu errado fomos nós. Nunca soubemos escolher operadores que dessem tenência aos sucessivos governos pelo simples fato que nós, a famosa sociedade, também não a temos.
ENGOLIDORES DE RABOS
Viramos cobras que engolem o próprio rabo. E novamente perplexos, como se fosse um ciclo, perguntamo-nos porque diabos não damos certo. Ah, é culpa do povo. A revelação é dolorosa: NÓS, eu e você também somos o povo. Então cá estamos nós sem eira nem beira.
CINEMA DE TRIBO
Em conversa com amigos, na tarde de domingo, falamos sobre cinema brasileiro e sua incapacidade de se sustentar pelas próprias pernas, quando um deles falou que ”o cinema brasileiro não tem muito a dizer no momento”. Pode ser, mas é por causa de vício de origem. Não conseguimos realmente atrair grande público. É de tribo para tribo.
ESTÉTICA DA POBREZA
O cinema nacional teve seus momentos aqui e acolá, certo, mas ficou mais de olho na ideologia e nos dramas sociais. Veio o oposto, com as chanchadas dos anos 1950, mas que, pelo menos, enchiam as salas com suas comédias bobinhas mas que faziam rir. Então, vieram os anos 1960 e apareceu uma exceção, o cineasta Domingos de Oliveira, que nem brasileiro era, com Leila Diniz e Todas as Mulheres do Mundo, uma comédia urbana que fez enorme sucesso.
TRILHA PERDIDA
Quando parecia que tínhamos um, veio Glauber Rocha e sua estética da pobreza. Sucesso de crítica, mas nunca de público. Filmes cabeça a soldo de uma tal de revolução. Aliás, Domingos de Oliveira foi considerado maldito porque não entrou nessa onda. Com auxílio do Governo, sempre ele, criamos as pornochanchadas e chegamos a hoje sem sair do buraco em que nós mesmo nos enterramos. Nós que eu digo são eles.
HERANÇA NODESTINA
Os filmes que hoje revelam roteiristas talentosos – pois é desse ofício que falamos – vem do Nordeste. Ganhamos a atenção nacional com um filme sobre o nordeste, aliás, Lampião o Rei do Cangaço. Aí vem a ironia história: a região mais pobre do país é a que escapa da mediocridade.
EXCEÇÕES DA REGRA
Algumas séries e minisséries. A Globo produziu uma de primeira grandeza, Agosto. Mas isso foi no tempo em que bundas em rebolado e peitos com hectolitros de silicone não eram terreno fértil para o merchandising.
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