• Um longo recado

    Publicado por: • 25 set • Publicado em: A Vida como ela foi

    Certo dia, a equipe de criação de uma agência de propaganda de Porto Alegre se reuniu para ver qual seria o apelo criativo de queima de estoque de um cliente do varejo. Os anúncios estáticos da TV, chamados tabletop, e as páginas dos jornais teriam que ter uma chamada forte e depois ilustrações com os produtos e respectivos preços e condições de financiamento daquela época, início dos anos 1970.

    – Liquidação ainda funciona – disse o redator. – Não tem muito que inventar.

    – Que coisa mais bisonha – falou o dono da agência. – Vocês chamam isso de criativo?

    – Remarcação é velho, mas, para chamar atenção, vale. Não muito que inventar, chefe.

    O chefe virou uma arara.

    – Qui…bobagem. É pra isso que eu te pago? – disse o patrão revirando os olhos.

    – Promoção? – arriscou o tímido da equipe.

    – Outro que só diz besteira – falou o diretor à beira de um colapso nervoso.

    – Se o negócio é vender, não vejo como fugir de uma chamada forte usando este verbo ou derivado dele.

    – Meu Deus – balbuciou a chefia.

    Um filete de espuma escorria pelo canto da boca. Foi nesta hora que o último dos moicanos estalou os dedos.

    – Que tal liquiremarcapromovendação?

    Palmas gerais. Champanhe para a orquestra.

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  • Arquivo morto

    Publicado por: • 25 set • Publicado em: Sem categoria

    arquivo morto

    Literalmente. Sem maiores comentários. Por que jogaram

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  • Nada de novo no front

    Publicado por: • 25 set • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    Jair Bolsonaro disse na ONU o que ele sempre quis dizer: nada de arreglo, se quiserem ir para o pau eu topo. Claro que sofre ataques maciços, acredito que mais aqui do que lá fora, mas temos que esperar a poeira sentar. Se é que vai sentar. Vã esperança que ele fosse dar o flanco para tentar minimizar as críticas de quem sempre o odiou e continuará a sentar o sarrafo republicano no seu lombo, sem entrar no mérito.

    OS MANDARINS

    Nós sempre achamos que o Brasil é o umbigo do mundo e uma fala de um presidente tem o dom de influenciar um senhor chamado Mercado. Descendente direto do avarento Ebenezer Scrooge, do romance de Charles Dickens, este senhor não tem veias e nem coração. Seu negócio é ganhar dinheiro sem dar pelota para sonhos naturebas. A não ser que dê dinheiro. Se alguma preocupação ele tem é com a China.

    NERVOS DE AÇO

    O economista Sidnei de Moura Nehme, da NGO Corretora, escreveu que as tensões com a China e Estados Unidos estão levando os mercados a um comportamento bipolar. É, pode ser. Uma hora parece tudo azul e, no minuto seguinte, achamos que vivemos no fundo dos infernos.  Haja nervos para trabalhar com um cenário maluco como esse.

    VANTAGEM BRASILEIRA

    Se o mundo está à beira de um ataque de nervos, nós brasileiros temos muito a oferecer. Afinal, o Brasil é bipolar há muito tempo. Com a sociedade que tempos, e é o que a casa oferece, vivemos a glória e a esperança para, em seguida, cair no fosso da infelicidade e desesperança. Isso para quem não faz parte dos 70% dos brasileiros que são analfabetos funcionais. Vocês se deram conta disso?

    A BURRICE COMO BENÇÃO

    É assertiva conhecida, um arquétipo. Sempre dizemos que não é o governo, não é o Congresso, não são os políticos, é o povo que não leva jeito para despertar o Brasil do berço esplêndido, que não é esplêndido coisa nenhuma. Sim, sim, fazemos uma força danada para melhorar, mas no trajeto somos envoltos por emoções primárias, certamente alimentadas por parte da sociedade fundamentalista, aquela do crê ou morre.

    A CIZÂNIA COMO OBRIGAÇÃO

    Reúna uma turma de amigos ou parentes e pergunte a eles se o Brasil tem jeito e futuro. Certamente uma ou mais pessoas dirão que não. Engraçado, nós lamentamos que o povo venezuelano seja tão fraco a ponto da oposição ao meio ditador Nicolás Maduro não conseguir nem mesmo se unir e, quando encara, produz um presidente que invadiu seu próprio país e hoje está como a Conceição da música, ninguém sabe, ninguém viu.

    PAUSA QUE NÃO REFRESCA

    A Venezuela é a campeã da ineficiência. Está sentada em cima das maiores reservas de petróleo do mundo e não consegue nem mesmo fornecer papel higiênico para a população, é mole?

    A PAUSA QUE REFRESCA

    tucano_toco (6)O Gramadozoo recebeu 16 animais trazidos pelo Ibama na última semana. Os novos moradores são dez tucanos-toco, quatro quatis, uma iguana e uma jiboia. Os animais foram resgatados e estavam aos cuidados da Associação Mata Ciliar, de Jundiaí, São Paulo. São – ou deveriam ser – bichos felizes. Casa, cama, comida e um doutor para cuidar da saúde sem precisar ter um plano de saúde.

    Foto: Halder Ramos/Gramadozoo

    ESTRANHO

    De tanto ver a mulherada atracada num baseado, é de estranhar que ainda não haja uma epidemia de batizados Maria Juana.

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  • Não há nenhuma regra que garanta que o mundo tem que dar certo.

    • Tom Clancy, escritor •

  • Assaltado

    Publicado por: • 24 set • Publicado em: A Vida como ela foi

    O Zeca vivia sendo assaltado, mesmo que naqueles tempos os assaltos se contassem nos dedos. Tinha o que nós chamávamos de carnê de assaltado. Tirou a sorte grande ao contrário.

    Alguma coisa no seu jeito de caminhar após horas bebericando o uísque Old Eight na mesa um do Bar e Rotisserie Pelotense – era chamada de A Pelotense. Saía do bar e, no trajeto até o ponto de táxi na Borges de Medeiros, lá vinha o lalau fazer o serviço.

    O Zeca era aposentado de alto cargo público. Depois de perder montões de dinheiro, resolveu sair de casa com pouco. O cartão não era massificado naquela época, e nem todos aceitavam cheques. Então sempre tinha que ter algum no bolso para despesas.

    Um dia, o Zeca chegou com a cara amassada de sempre para iniciar os trabalhos. Começou a contar a desventura da véspera, tinha sido aliviado do vil metal quando chegou no seu prédio. Nisso entra um sujeito com uma voz grossa que não combinava com sua altura. Olha bem para o Zeca e joga uma carteira de dinheiro na mesa. Brabo, só disse uma frase e se mandou.

    – Ô velhote mixuruca! Só tinha dez pilas nessa tua carteira de bosta!

    Talvez o Zeca tenha inspirado a música do imortal Paulo Vanzoloini no Praça Clóvis. Ouça: https://www.youtube.com/watch?v=qC3yS6KHtN0

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