Os pastéis do Adão
Certa vez, fui lá com o saudoso jornalista Adão Oliveira, o Adãozinho Só Sucesso, que cobria Brasília para o Jornal do Comércio. Chegou o garçom e o Adão pediu meia dúzia. Achei um exagero, afinal não eram pequenos. Assim que o garçom anotou o pedido, Adãozinho esclareceu.
– Mas sem recheio.
– Como é que ė?
– O senhor ouviu. Sem recheio.
Bueno, cada um no seu cada qual. Ele devorou três cascas de pastel e pediu para embrulhar os restantes para viagem. Na hora da conta, perguntou ao cara da bandeja se não dariam desconto, afinal eles estavam ocos. O garçom deu uma balançada, surpreso com o argumento, em seguida indignação com a proposta indecorosa, depois achou que era pegadinha. Mas que balançou, balançou. Claro que pagou o pastel inteiro. Até hoje fico na dúvida se o Adãozinho estava ou não falando sério.
Entre tantos outros fregueses assíduos, figurava um delegado de Polícia. Como ele trabalhava em serviço burocrático e nunca prendeu ninguém, a turma o apelidou de Delegado Prisão de Ventre.
A única que efetuou.
Na verdade, o delegado em questão não era freguês, mas um dos três proprietários da casa. Havia também um delegado freguês, mas, este era aguerrido e comandava as frentes de combate. Ambos conhecidíssimos na noite porto-alegrense.