Os natais de cada um

26 dez • A Vida como ela foiNenhum comentário em Os natais de cada um

Para quem conseguiu chegar e passar da idade madura, chegando ao que algum cretino apelidou de melhor idade, fica meio mole ao recordar os natais de quando era criança. Nem sempre foram tempos felizes e, se foram,  a lembrança deles dói como um espinho na carne porque, vamos cair no lugar comum, são tempos que não voltam mais, nunca mais. 

Nas regiões de colonização alemã, como na minha pequena São Vendelino, se comemorava o Dia de São Nicolau. A primeira lembrança que tenho não é de Papai Noel, mas da Mamãe Noel, toda vestida de branco com uma vareta que se acende como fósforo na mão e despejava estrelinhas.

Eu estava doente, acamado, então meus pais devem ter feito um gasto danado para me alegrar. Desculpa, pai, desculpa mãe.  

Daquele tempo, minha retina guarda uma coleção de imagens, cheiros e sons, como se fossem curtas de alguns segundos. Um deles foi quando morávamos em uma casa de madeira pintada de verde. Frio, noite, cerca de 21h, o fogão a lenha da minha mãe, chaleira chiando, chá preto.

Eu e meu irmão Paulo com o ouvido colado no rádio alemão marca Mende, ouvindo, nas ondas curtas, o programa Aventuras do Capitão Atlas, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro – ou era a Tupy?   

Meu mano Paulo. Me dói não ter estado mais com ele quando perdeu a guerra contra um mundo hostil. Meu querido mano de olhos tristes que não riam, embora a boca insistisse que eles rissem juntos.

Aquela determinada noite da chaleira chiando, do zumbido do rádio quando o som sumia, aquela foi uma época que me deixou saudade, mas me entristece. Quantos Paulos neste mundo de Deus nunca riram com os olhos? Mesmo ao redor do pinheirinho de Natal iluminado com velas balouçantes nos galhos verdes cheios de barba de pau, o presépio com um espelhinho fazendo as vezes de um laguinho, e os presentes no pé, a pequena dor da cera derretida na mão.

Tudo aquilo que parecia sólido se desmanchava no dia 6 de janeiro, o dia do desmonte do pinheiro de Natal, que já estava meio murcho e com destino selado, seria graveto para acender o fogo mais depressa. O que vem, vai. Pena que passe tão depressa. 

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Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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