O Rei do Furo
Era o apelido de um jornalista que trabalhava na Assessoria de Imprensa da Assembleia Legislativa, ou pelo menos parecia ser. Era encontrável diariamente na sala de imprensa, atrás da sua fiel máquina de escrever Remington, anos a fio.
O chefe era o jornalista João Carlos Terlera, já falecido. Ótimo repórter, Terlera cobria todo o espectro político, não só da Assembleia, mas também do Palácio Piratini e além. Seu fiel escudeiro era o Rei do Furo.
Terlera aprontou poucas e boas, fiel ao seu lema de não perder a piada mesmo perdendo o amigo. Nascido em Mussum, criou um decalco de carro em que duas mãos seguravam esse peixe em formato de cobra. Abaixo, a frase “Ninguém segura Mussum”. Era moda naquela época, tipo “Alegrete Baita Chão”, Bom é Campo Bom, e assemelhados.
Certa vez, encontrei o Rei do furo em uma cafeteria da Galeria Chaves, Porto Alegre. Nos cumprimentamos, abraço e coisa e tal, perguntei se ele já estava aposentado.
– Sim, mas ganhei os atrasados. Não entendi.
– Acontece que eu nunca fui funcionário da Assembleia. Passei a frequentar a sala de imprensa e ajudava o Terlera enviando matérias para os jornais. Quando completei 30 anos no posto, entrei com ação trabalhista e levei tudo com juros e correção, todos os 30 anos.
Testemunhas não faltaram para atestar que ele ia e trabalhava diariamente na Casa do Povo.