O primeiro erro
Quando Deus criou o homem do barro e, da costela dele, fez a mulher, achou melhor criar os especialistas em seguida, para orientá-lo nas suas criações. A primeira coisa que o primeiro deles falou, um cientista social, foi dizer que a falta de uma costela levaria a futuros complexos de inferioridade.
Assim que veio à luz, um outro, um estatístico, garantiu que a humanidade era exatamente 50% de homens e 50% de mulheres. O terceiro, um economista, alvitrou que haveria 100% de chance de o casal ter filhos.
Duvidando das contas do colega, o último especialista, um advogado, entrou com uma liminar para suspender qualquer outra criação enquanto não se discutisse a constitucionalidade dos atos do Criador. No meio do entrevero, todos fizeram uma pausa para analisar a proposta do cientista social em criar uma associação, primeiro passo para formalizar um sindicato. Também sugeriu que ele se filiasse logo à CUT.
Quando estavam todos de acordo com a ideia veio uma dúvida: como eles foram criados por um ente superior, o Estado, a rigor, por suposto, disse o cientista social, todos eles seriam funcionários públicos. Então, teriam que ter um plano de carreira, quinquênios, licenças-prêmios, direito à greve e jornada semanal de 40 horas, com duas horas extras incorporadas aos vencimentos.
Aprovado por unanimidade. Elaboraram uma minuta, transformada em ofício e enviada para o Pai de Todos.
Ele recebeu o documento, leu, releu. E, no final, deu um suspiro de desânimo. Falando mais para ele mesmo, resumiu a situação.
– Adão já foi um erro…