Deus por aplicativo

27 set • NotasNenhum comentário em Deus por aplicativo

Perambulando nas agências de notícias soube que a ESPM São Paulo, Escola Superior de Propaganda e Marketing, vai lançar, em novembro, um curso de marketing religioso. O público-alvo são lideranças espirituais e todo o séquito que acompanha essa atividade, inclusive crentes.

Achei que havia uma contradição, porque são essas lideranças que deveriam dar cursos de marketing político. De todo o espectro religioso, algumas políticas de marketing são milenares. Outras mais recentes aperfeiçoaram as expertises, como se diz no jargão do MKT.

E olha que algumas deveriam ser como benchmarking, outro jargão do setor, para empresas privadas. A começar pela escolha do presidente, diretores e patronos.

Nomes variam, práticas variam. Mas, no fundo, o objetivo é o mesmo: conquistar o maior número de fiéis possível.

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Há um sem-número de seitas paralelas e outro tanto que desapareceram ao longo da história. Muito provavelmente porque seu marketing não era bom.

Sério, religião sem essa condição não vai longe. Às vezes Deus tem outro nome. E, às vezes, ele não figura como presidente destas empresas-seitas.

Nestes casos são substituídos por um colegiado, tipo cooperativa. Como na imprensa clássica, existe a imprensa alternativa.

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Pois estas organizações que não se dizem religiões, lutam apenas para melhorar a vida e a outra vida dos cooperados.  Mas não falemos delas provisoriamente.

Tanto a Igreja Católica quanto o Judaísmo aprimoraram seu marketing ou conquistas de clientes fiéis ao longo dos séculos. A Católica criou um mártir  imortal e uma fieira de diretores, os padroeiros, santos e santas.

Como massa, que é a mesma, mas adquire vários formatos, espaguete,  fusili, penne e outras. Funciona bem, desde que esses diretores mostrem algum serviço como milagres.

Há quem diga que existe contradição, pois prega a pobreza quando é riquíssima, com tesouros de valor incalculável. Mas para ter um guia poderoso, criaram a Bíblia dividida em dois, o Antigo e o Novo Testamento. 

O segundo não é considerado válido para outras religiões. Mas é um bom marketing.

O Judaísmo tem a sua Bíblia, a Torá, que é o Primeiro Testamento, com algumas modificações. De certa forma, o Islamismo também tem sua bíblia, o Corão.

A diferença é que Jesus Cristo é um profeta. O formato de Deus é difuso, começou como um velhinho bondoso de barba branca, expediente que entrou em recesso ao se verificar as atrocidades da Humanidade.

Então ele reina mas não governa, certo? Como o Rei da Inglaterra. Para ser Deus na Terra criou-se o Papa, uma espécie de primeiro-ministro.

A Igreja Católica foi sempre muito dividida. E não levou muito tempo para aparecerem concorrentes, como os chamados protestantes e cristãos ortodoxos.

Já os judeus não mudaram muito seu marketing, mais fiéis às suas origens. De todos os livros sagrados o único que deve ser levado ao pé da letra é o Corão, ou Alcorão. A Bíblia pode ser interpretada.

Enfim, marketing pode ser palavra nova. Mas o sistema surgiu desde o Big Bang e a Criação.

O caso dos dois rabinos

Para ilustrar bem o processo de eficiência judaica, há uma história. Domingo de Páscoa, Vaticano, 50 mil pessoas na Praça da Sé para ver a missa dominical ser rezada pelo Papa.

Dois bispos arrumam uma mesa, com toalhas bordadas com fios de ouro para pedir donativos, quando chegam dois rabinos. Carregam uma mesa simples, já meio torta, sem nenhum detalhe caro e colocam um cesto de vime para receber doações. Um dos bispos que se vira para eles e fala com ironia.       

– Vocês acham que, no coração da Igreja Católica, alguém vai dar dinheiro para vocês? 

Um rabino se vira para o outro e fala também com ironia.       

– Samuel, eles querem ensinar marketing para nós…

Tudo é uma questão de marketing. O das chamadas seitas evangélicas fez uma revolução no método: o Deus deles não é punitivo como o católico. Ele quer que você ganhe dinheiro e está aí para perdoar e não para cobrar juros do pecado original cometido por Adão e Eva, uma linha de crédito que já nasce com saldo devedor. 

Para especialistas, esse é um enorme erro de marketing. Para fazer frente à concorrência, fizeram um arranjo a fim de atrair fiéis. Mas o estrago já estava feito. 

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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