O presente do remorso

13 nov • A Vida como ela foiNenhum comentário em O presente do remorso

O jornalista Kenny Braga escreveu um interessante livro sobre Plauto Cruz, disponível na Feira do Livro. Além da passagem de Plauto por emissoras de rádio em décadas passadas resgata templos da serenata como o Alambique’s Bar, na Galeria Independência, e A Varanda, na esquina da Santo Antônio com Cristóvão Colombo, de Vera e Maneco Vargas, filho de Getúlio Vargas, mas cujo operador foi outra figura ímpar, Clio Paulo de Mello, o Clio do Cavaquinho, amigão do peito.

A Porto Alegre dos anos 1960 e 1970 era bem mais amigável, segura e interessante que a de hoje. As boates (não confundir com cabarés) regurgitava de gente. Os bar-chopes com seus sanduíches abertos e especialidades da casa, o SHHHH dos últimos suspiros dos barris de chope sendo trocados, os fim do expediente boêmio nas  madrugadas no Treviso, Tia Dulce entre outros, era a ponte entre a festa e o basquete, o cruel trabalho.

  A Porto Alegre de hoje pouco tem a ver com seu glorioso passado. No início dos anos 1970, a Capital tinha apenas 40 mil automóveis. Do Centro até Ipanema existiam duas ou três sinaleiras.

Uma viagem maior era ir até Belém Novo e comer no restaurante à beira do Guaíba, que em dias de vento beijava as paredes do estabelecimento. Indo “por dentro” uma boa pedida era a churrascaria Pastoriza, posta em região bucólica lembrando o interior com seus campos e mato.  

Em Ipanema também ficava a Cabana do Turquinho, que ganhava vida mesmo no Carnaval, incluindo senhores respeitáveis com roupa de mulher, mesmo não sendo gays. Bem, alguns, pelo menos.

Para os que procuravam cabarés, hoje casas de garotas de programa, a Mônica, no Cristal, conhecida em todo o Brasil, e seu garçom Jorginho, que vendia produtos importados, como perfumes, estojos de maquiagem, batons e isqueiros como o Zippo, Ibelo Monopol, e outros. Era o que se chamava presente do remorso.

As drogas eram poucas, como comprimidos de Pervitin que, ingeridos com álcool apenas  deixavam o usuário mais falante que político em dia de inauguração de obra. Cocaína só para ricaços. Maconha era coisa do submundo. Ser chamado de maconheiro deixava a autoestima mais baixa que buraco de minhoca.

Não tem como não ter saudades da Porto Alegre daquela época…

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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