O mapa da comida
O mapa mostra bem o quanto a riqueza do Brasil depende do agronegócio. Comparem o percentual sobre o PIB com outros países – no Brasil é quase 30%. Muito acima da maioria dos outros.
O extraordinário é que o ser urbano brasileiro torce o nariz para ele. Acha que todo mundo tem jatinho, derruba árvores e é um parasita. É bem coisa de quem nunca saiu do asfalto. Agricultura e pecuária é uma abstração que o incomoda.
Claro, até capim que boi come é de direita. De esquerda, só a hortinha no quintal. OK, eliminemos o agronegócio. O que o ser urbano vai comer? E os mais de 27% do PIB, o que e quem vai substituir?
Branca e gelada
A visão do campo e o que ele produz é uma ideia vaga para o morador da cidade grande. Nos anos 1980, ficou famoso o caso de uma prova do ensino fundamental, em uma escola de São Paulo, em que se perguntou o que era galinha. “Galinha é uma coisa branca e gelada que a mamãe compra no supermercado.”
Não foi só um aluno, foram vários, com pequenas alterações de texto. Hoje, talvez parte diria que é um personagem de desenho animado.
Redondo, perigoso e chato
O mundo está chato. Louco, chato e perigoso de se viver. O Brasil tem tudo isso ao quadrado.
Não falo de eventos climáticos nem catástrofes naturais, que de resto sempre existiram, mas com pouca divulgação em décadas anteriores. Isso porque havia menos gente e a comunicação era péssima. Para dar apenas uma colaboração.
Vivemos lendo que o calor extremo em este ou aquele lugar foi recorde “desde o ano tal”. Ou seja, já houve antes. Mas não é esse o foco agora. Falo das relações humanas, do politicamente correto em nível de paranoia. E a incrível hostilidade de pessoas engajadas antes mesmo de o interlocutor querer conversar.
Por uma dessas coisas bem brasileiras, aqui é tudo mais exagerado. O escritor angolano Mia Couto, o queridinho da esquerda, disse, em Feira do Livro, há uns cinco anos, que o politicamente correto tira a naturalidade até de conversar. É fato.
E a agressividade maior vem acompanhada de pouco contexto cultural, como uma trilha de ovelhas, que só sabem caminhar nela. Hay personas, soy contra.
Agressividade gerada antes na suposição de que o outro quer atacá-lo. Freud explica, dizíamos nos anos 1960. Hoje, nem Freud explica. E então vem um grande paradoxo. Em calamidades, é impressionante a generosidade nas doações e voluntariado. Mas bastou mexer na ferida ideológica ou pessoal de cada um que lá vem pedrada. Quem não está comigo é meu inimigo.
O reflexo desta animosidade afeta até a imprensa escrita, falada e televisionada. E boa parte do sentido editorial que dá razão às minorias – que já são maiorias barulhentas – tem no âmago um olhar de condescendência, tipo coitadinhos deles. Não é totalmente sincero, é surfar na onda.
Por isso, é muito chato viver no Brasil. Assim como é muito difícil empreender no Brasil, graças à burocracia e até uma certa má vontade de parte dos burocratas de plantão.
Não raro, imbuídos de outro “soy contra”. O ser contra o capital e repulsa para quem ganha mais dinheiro que o salário dele.
Em Porto Alegre, se você comprar uma Mercedes, os caras querem que você se estrepe no primeiro poste. Não é assim nas zonas de colonização italiana e alemã, por isso cito Porto Alegre. Na Serra, se você comprar uma Mercedes, o vizinho quer comprar um modelo superior e mais caro da Mercedes.