O mapa da comida

25 set • NotasNenhum comentário em O mapa da comida

O mapa mostra bem o quanto a riqueza do Brasil depende do agronegócio. Comparem o percentual sobre o PIB com outros países – no Brasil é quase 30%. Muito acima da maioria dos outros.

O extraordinário é que o ser urbano brasileiro torce o nariz para ele. Acha que todo mundo tem jatinho, derruba árvores e é um parasita. É bem coisa de quem nunca saiu do asfalto. Agricultura e pecuária é uma abstração que o incomoda.

https://www.banrisul.com.br/bob/link/bobw27hn_conteudo_lista2.aspx?secao_id=2117&utm_source=fernando_albrecht&utm_medium=p_blog&utm_campaign=cartão_crédito_isenção_anuidade&utm_content=escala_600x90px

Claro, até capim que boi come é de direita. De esquerda, só a hortinha no quintal. OK, eliminemos o agronegócio. O que o ser urbano vai comer? E os mais de 27% do PIB, o que e quem vai substituir?

Branca e gelada

A visão do campo e o que ele produz é uma ideia vaga para o morador da cidade grande. Nos anos 1980, ficou famoso o caso de uma prova do ensino fundamental, em uma escola de São Paulo, em que se perguntou o que era galinha. “Galinha é uma coisa branca e gelada que a mamãe compra no supermercado.”  

Não foi só um aluno, foram vários, com pequenas alterações de texto. Hoje, talvez parte diria que é um personagem de desenho animado.

Redondo, perigoso e chato

O mundo está chato. Louco, chato e perigoso de se viver.  O Brasil tem tudo isso ao quadrado.

https://cnabrasil.org.br/senar

Não falo de eventos climáticos nem catástrofes naturais, que de resto sempre existiram, mas com pouca divulgação em décadas anteriores. Isso porque havia menos gente e a comunicação era péssima. Para dar apenas uma colaboração.

Vivemos lendo que o calor extremo em este ou aquele lugar foi recorde “desde o ano tal”. Ou seja, já houve antes. Mas não é esse o foco agora. Falo das relações humanas, do politicamente correto em nível de paranoia. E a incrível hostilidade de pessoas engajadas antes mesmo de o interlocutor querer conversar.

Por uma dessas coisas bem brasileiras, aqui é tudo mais exagerado. O escritor angolano Mia Couto, o queridinho da esquerda, disse, em Feira do Livro, há uns cinco anos, que o politicamente correto tira a naturalidade até de conversar. É fato.

E a agressividade maior vem acompanhada de pouco contexto cultural, como uma trilha de ovelhas, que só sabem caminhar nela. Hay personas, soy contra.

Agressividade gerada antes na suposição de que o outro quer atacá-lo. Freud explica, dizíamos nos anos 1960. Hoje, nem Freud explica. E então vem um grande paradoxo. Em calamidades, é impressionante a generosidade nas doações e voluntariado. Mas bastou mexer na ferida ideológica ou pessoal de cada um que lá vem pedrada. Quem não está comigo é meu inimigo.

O reflexo desta animosidade afeta até a imprensa escrita, falada e televisionada. E boa parte do sentido editorial que dá razão às minorias – que já são maiorias barulhentas – tem no âmago um olhar de condescendência, tipo coitadinhos deles. Não é totalmente sincero, é surfar na onda. 

Por isso, é muito chato viver no Brasil. Assim como é muito difícil empreender no Brasil, graças à burocracia e até uma certa má vontade de parte dos burocratas de plantão.

Não raro, imbuídos de outro “soy contra”. O ser contra o capital e repulsa para quem ganha mais dinheiro que o salário dele.

Em Porto Alegre, se você comprar uma Mercedes, os caras querem que você se estrepe no primeiro poste. Não é assim nas zonas de colonização italiana e alemã, por isso cito Porto Alegre. Na Serra, se você comprar uma Mercedes, o vizinho quer comprar um modelo superior e mais caro da Mercedes.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

FacebookTwitter

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

« »