Ó dúvida cruel!
Até recentemente, o adultério era crime, mas só para as mulheres. Era muito difícil conseguir um flagrante, por motivos óbvios. Afinal, não é comum ter testemunhas para o combate de Eros ao lado da cama. Quer dizer, não é comum até por aí, como sabem muito bem os lençóis dos motéis. Nos meus tempos de repórter, só vi um caso de adultério não consentido servir como prova para efeitos legais.
Vez por outra, maridos que suspeitavam da modalidade olímpica de pular o muro da digna consorte pedirem a ação policial nas madrugadas do DPJ – Departamento da Polícia Judiciária, no Palácio da Polícia, sito na avenida Ipiranga. Era e é o único palácio com xadrez. Em conversa com policiais, volta e meia o assunto vinha à baila. E, com ele, uma lenda urbana que teria acontecido na década de 1950.
Um figurão do tipo “sabe com quem está falando?” procurou o delegado da plantão exigindo flagrante de adultério, para não pagar o mico de ser o que todo mundo sabia, que era casado com uma hábil alpinista. Sua bela esposa estava nos braços do amante, um conhecido advogado, no endereço tal.
Acompanhado de dois inspetores, a caravana policial foi lá conferir o libidinoso ato. De fato, pegaram os dois com a boca na botija. Levados ao plantão – diziam que ela até fez olhinho para o delegado – escrivão a postos, deixaram o brilhante advogado dar sua versão.
Foi então que se descobriu como ele podia ser hábil no gogó. Ele negou o acontecido com tanta veemência embebida em convicção e por tanto tempo que o delegado ficou na dúvida, os dois policiais ficaram na dúvida, o escrivão ficou na dúvida e até ela ficou na dúvida. Mais um pouco até ele ficaria em dúvida. Desistiram do flagrante, para desespero do maridão.
Quando saíram do DPJ, ela ainda teria feito olhinho para um dos presentes. Mas essa já é outra história.
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