O dia da minha morte

14 nov • A Vida como ela foiNenhum comentário em O dia da minha morte

Eu moro – morava – na parte baixa das Montanhas Rochosas, EUA. Tenho muito medo de cobras, por isso nunca saio das trilhas, porque a cascavel daquela região, a crotalis atrox, é particularmente perigosa. Já perdi amigos e parentes por causa dessa bandida, cujo veneno miotóxico paralisa a vítima em poucos segundos. 

Nada de aviso via chocalho. Ela pica silenciosamente. Por isso mesmo me cuido muito nas trilhas, porque minha visão não é boa. A cascavel tem sensores de calor, infravermelho, sua língua bipartida capta moléculas de qualquer ser vivo. Então ela espera os sinais e então ataca.

Eu já tinha percorrido metade da trilha rumo à minha casa, o medo ia desaparecendo, então afrouxei a guarda. De repente vi um vulto crescendo, senti uma picada dolorosa e em seguida meus músculos ficaram paralisados. Eu estava começando a morrer.

Pouco depois uma grande boca veio em minha direção, e antes de tudo ficar escuro, pensei que, para pequenos roedores das Montanhas Rochosas como eu, definitivamente a vida não é justa.

Tive inveja dos humanos.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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