O comício fatal

27 set • A Vida como ela foiNenhum comentário em O comício fatal

Dono de um prestígio sem precedentes na sua cidade nos anos 1950, localizada na região da Campanha do Rio Grande do Sul, um pacato cidadão foi instado a concorrer na eleição para prefeito. Seria fácil como tirar pirulito de criança, garantiram os impulsionadores. O homem era presidente de todos os clubes de serviço, clube de futebol. Qualquer que fosse a agremiação, o bom homem estava lá, sempre carregado nos ombros do povo.

Ele relutou muito e só aceitou depois que sua mulher deu uma prensa federal, tímido que era. Ninguém tinha dúvidas, ele seria o prefeito mais votado da história do município e quiçá do estado. Marcaram o comício de abertura da campanha. No dia aprazado, a praça estava lotada de gente para assistir ao comício. No palanque, o candidato suava em bicas. Quando anunciaram que ele falaria vieram aplausos antecipados. Depois, silêncio absoluto.

Só que sobreveio o imponderável. O homem era tão tímido que entrou em pânico. Não saía nenhum som da boca. O maxilar inferior tremia como vara verde. Passaram-se segundos que pareceram uma eternidade. Vendo que desse mato não sairia coelho, a mulher do candidato tirou o microfone da sua mão e gritou a mensagem amplificada pelos alto-falantes.

– Meu povo, eu vou falar porque meu marido não é de nada!

Naqueles tempos, a expressão significava outra coisa, bem pior. Tinha a ver com sexo. O resultado da eleição? Adivinhem.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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