O caso do avião na avenida
Anos 1970. Centro de Porto Alegre. Madrugada. Dois boêmios estavam aumentando consideravelmente o faturamento da Cervejaria Brahma, sentados no Bar Farroupilha – onde se inventou o sanduíche com este nome, em 1935 – na esquina da avenida Borges de Medeiros com a rua Fernando Machado.
Conversa vai, conversa vem, de repente um deles olhou para rua e arregalou os olhos.
– Está passando um avião na rua aí em frente!
Sentado de costas para a rua, o outro nem deu bola, conhecedor que era dos efeitos do álcool no parceiro. Nem se virou para conferir.
– Eu estou dizendo, meu. Tá passando um avião na Borges!
O parceiro limitou-se a esvaziar mais um dos incontáveis copos de cerveja.
– Sei. Atrás dele vem um porta-aviões.
– Não brinca comigo! Eu juro que é um avião! Por que eu iria te mentir?
– Mentir não, exagerar.
E assim foram eles trovando e bebendo, até que o que via avião na Borges encerrou o papo, resignado.
– Pronto. Desapareceu. Mas que era um avião passando, era!
– Para com essa cachaça, meu!
No dia seguinte, os jornais da Capital gaúcha traziam matérias sobre inusitado traslado de um DC-3 desativado, colocado em cima de um caminhão que trafegava pela avenida Borges de Medeiros em plena madrugada, para evitar o trânsito pesado, até a Pedra Redonda, Zona Sul, onde seria transformado na Boate do Avião.