O banco do Alfaiate
O Alfaiate foi um dos tantos tipos que batiam ponto na Rua da Praia da Porto Alegre dos anos 1980 e 1990. Era visto quase sempre na frente da Praça da Alfândega. O apelido não era em vão, foi realmente alfaiate. Sempre de terno, chapéu guarda chuva e uma maleta na mão, aguardava a passagem de um conhecido que lhe pagasse o cafezinho amigo.
Sua roupa, chapéu e maleta estavam cheias daqueles rabiscos pontudos comuns a quem tinha esquizofrenia, mas era calmo, inteligente, bem informado. Só recusava dizer o seu nome de batismo. E olha que paguei zilhões de cafezinhos para ele. Sua técnica de abordagem consistia em interromper a caminhada das pessoas, fazer a uma pergunta desconcertante, e com ou sem resposta, vinha “paga um cafezinho?”
Certa vez eu estava apressado e com minha cota de bondade esgotada. Quando passei por por ele nem parei.
– Falamos na volta, vou para meu banco.
O Alfaite ergueu o guarda-chuva como se fosse varinha mágica.
– Teu banco é pra lá!
Até isso ele sabia. Dei o dinheiro. Eu e minha maldita mania de não saber dizer não.
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