Nos idos de 1968
Sei que já nas primeiras palavras alguns leitores apareceu a palavra “dinossauro”. Desculpa, mas os dinossauros foram extintos, eu – ainda – não.
Da faculdade ao jornal
Lembro, como se fosse hoje, o momento em que o colega e amigo Ademar Vargas de Freitas me falou, no Centro Acadêmico, que tinha uma vaga, na Zero Hora, para repórter da madrugada, cobrindo a área policial e o que viesse pela frente. Na época, a ZH ainda era de propriedade do grande jornalista Ary de Carvalho. É barra pesada, advertiu o Ademar. É era mesmo.
Em 1968, Porto Alegre tinha menos de 18 mil automóveis, e em torno de 700 mil habitantes. Ia-se do Centro – a redação ficava na rua 7 de Setembro – até o distante bairro de Ipanema pegando apenas duas sinaleiras.
Segurança
Você caminhava despreocupadamente pela maioria das ruas, sem medo de assaltos. Invejem-me, vocês que temem ser alvo de violência até mesmo de dia, em rua movimentada.
O ano de 1968 marcou o início da degringolada, e em todo o mundo. Aqui deu o AI-5, as drogas começavam a preocupar. Mas só rico cheirava cocaína. Aliás, era palavra quase desconhecida. Consequentemente, viciados não assaltavam para ter dinheiro para comprar drogas. Mas aí começava a esculhambação.
Pernas
Víamos mais pernas de mulheres nas ruas que hoje. A minissaia reinava absoluta. Hoje, e só jeans, jeans e mais jeans. Depois falamos dos chineses e japoneses, tudo igual. Aqui que é tudo igual.
Se naqueles dias fosse possível viajar no tempo e chegar a Porto Alegre de hoje, chegar-se-ia à conclusão que a miséria era total, com maior parte de mulheres e até homens usando jeans rasgados – calça Lee, na época. Meu Deus, pensaria eu, que crise para obrigar as pessoas a usar roupas em andrajos.
Dava para tomar banho no Guaíba nos bairros junto à orla. Quanto à segurança, o maior perigo eram os chamados descuidistas, os batedores de carteira, geralmente usada no bolso de trás. A maioria era carioca, não me perguntem o motivo. Eram hábeis pra caramba. Num zas-traz você ficava pobre.