As cuecas do Marimbondo

27 jul • A Vida como ela foiNenhum comentário em As cuecas do Marimbondo

Xerife, o Homem dos Cachos, Maria Chorona, Alfaiate, Marimbondo foram alguns dos personagens que marcaram época na Rua da Praia de Porto Alegre, entre os anos 1960 e 1970. Talvez um pouco mais para os sobreviventes.

Já se escreveu muito sobre eles. Mas como ninguém mais lê o passado, erram o presente. Eu mesmo já contei muito sobre estas figuras, cada uma com suas bizarrices.

O Xerife era um tipo sisudo e quieto que usava uma estrela de xerife pregada no paletó. A Maria Chorona passava os dias sentada nas praças do Centro chorando sem parar. E era um choro convulsivo com lágrimas de verdade, não essas fajutas dos filmes – dizíamos antigamente que era azeite. Acho que a Maria Chorona deveria ter uma hidráulica própria de tantas lágrimas que vertia.

O Homem dos Cachos – e os tinha – levava a tiracolo uma caixa de vidro onde se viam cédulas e moedas que ele arrecadava. O Alfaiate era outro tipo singular, com terno, cartola, sempre de guarda-chuva, com dizeres incompreensíveis colados por toda a roupa.

Mas tinha lá suas espertezas. Certa feita, cansado de sempre lhe alcançar uns trocados, dei a desculpa que estava sem dinheiro e que ia sacar no banco.

– Teu banco fica pra lá! – disse com ar severo.

E ficava mesmo. Já o Marimbondo era o joguete dos riquinhos na época, que o contratavam para fazer pegadinhas, especialmente para as mulheres da sociedade. A Rua da Praia era a passarela da moda na época.

Pois um dia uma colunista social escreveu no Correio do Povo que um bando de playboys irresponsáveis chocavam as mulheres com palavreado chulo; E, pior, deu os nomes de alguns na coluna.

Então veio a vingança. Os atrevidos pegaram o Marimbondo e o encarregaram de uma ação. Na noite de sábado, saída da primeira sessão de dois cinemas lado a lado, rua cheia de gente, o Marimba se posta no meio da rua bem em frente ao edifício do Clube do Comércio, que tinha alguns andares com apartamentos.

Um deles, o mais baixo, morava a tal jornalista. Ele pôs as mãos em concha na boca e berrou como uma possesso para ser ouvido por mais de uma quadra.

– Minhas cuecas, devolve pelo menos minhas cuecas, joga pela janela!

https://www.brde.com.br/

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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