As cuecas do Marimbondo
Xerife, o Homem dos Cachos, Maria Chorona, Alfaiate, Marimbondo foram alguns dos personagens que marcaram época na Rua da Praia de Porto Alegre, entre os anos 1960 e 1970. Talvez um pouco mais para os sobreviventes.
Já se escreveu muito sobre eles. Mas como ninguém mais lê o passado, erram o presente. Eu mesmo já contei muito sobre estas figuras, cada uma com suas bizarrices.
O Xerife era um tipo sisudo e quieto que usava uma estrela de xerife pregada no paletó. A Maria Chorona passava os dias sentada nas praças do Centro chorando sem parar. E era um choro convulsivo com lágrimas de verdade, não essas fajutas dos filmes – dizíamos antigamente que era azeite. Acho que a Maria Chorona deveria ter uma hidráulica própria de tantas lágrimas que vertia.
O Homem dos Cachos – e os tinha – levava a tiracolo uma caixa de vidro onde se viam cédulas e moedas que ele arrecadava. O Alfaiate era outro tipo singular, com terno, cartola, sempre de guarda-chuva, com dizeres incompreensíveis colados por toda a roupa.
Mas tinha lá suas espertezas. Certa feita, cansado de sempre lhe alcançar uns trocados, dei a desculpa que estava sem dinheiro e que ia sacar no banco.
– Teu banco fica pra lá! – disse com ar severo.
E ficava mesmo. Já o Marimbondo era o joguete dos riquinhos na época, que o contratavam para fazer pegadinhas, especialmente para as mulheres da sociedade. A Rua da Praia era a passarela da moda na época.
Pois um dia uma colunista social escreveu no Correio do Povo que um bando de playboys irresponsáveis chocavam as mulheres com palavreado chulo; E, pior, deu os nomes de alguns na coluna.
Então veio a vingança. Os atrevidos pegaram o Marimbondo e o encarregaram de uma ação. Na noite de sábado, saída da primeira sessão de dois cinemas lado a lado, rua cheia de gente, o Marimba se posta no meio da rua bem em frente ao edifício do Clube do Comércio, que tinha alguns andares com apartamentos.
Um deles, o mais baixo, morava a tal jornalista. Ele pôs as mãos em concha na boca e berrou como uma possesso para ser ouvido por mais de uma quadra.
– Minhas cuecas, devolve pelo menos minhas cuecas, joga pela janela!