Minha lona, minha vida
Uma busca nas imagens da minha infância revela que uma das coisas mais prazerosa daqueles anos do ouro era viajar na carroceria de caminhão. Não eram muitos naqueles na época em que eu era guri, o do meu pai, que tinha prensa de alfafa e “venda” de secos e molhados, como se dizia, o do meu irmão e alguns vizinhos distantes que iam e vinham com mercadorias.
O ideal era quanto chovia. Naquele tempo, as cargas só eram cobertas com lona para viagens mais longas. No dia a dia, havia um travessão horizontal em que a lona ficava encolhida e aberta quando chovia, tipo barraca. Pois era esse o meu paraíso.
Protegido da chuva e tendo como cama sacos de farelo de feijão ou fardos de alfafa – muitos cavalos, muita alfafa – e embalado pelas imperfeições da estradas de chão batido, era o máximo de proteção em um mínimo de espaço. Carretas ou jamantas não existiam. O máximo eram os “reboques”, como se chamavam, cavalo e carroceria, 10 rodas.
Na época, transportavam tábuas da nossa araucária, que desciam a Serra vindos da região de Caxias do Sul e vizinhança. Foi assim que ela quase foi extinta. Mas essa já é outra história.