Memórias
A Nilo Peçanha, na altura do Iguatemi em diante, era uma estrada de chão batido com tambos de leite e acesso a Alvorada e Viamão através de vastos potreiros. A avenida Independência era cheia de mansões. Algumas com nomes de médicos como Baldoni e Ricaldone e grandes empresários.
Do Centro de Porto Alegre até Ipanema só havia duas sinaleiras. As famílias tinham casas de veraneio no bairro.
No fundo do copo de chope do bar do cinema Cacique havia duas gotinhas de água e açúcar para evitar que lábios gordurosos ou com batom eliminassem o colarinho.
Já o segredo do sanduíche de pernil do Matheus eram dois, peça fatiada na hora do preparo e molho sem frescura usado no cachorro quente. A melhor torrada do mundo era a do Centro Esportivo, na Benjamin Constant, três andares com lombo de porco, queijo e tomate.
O croquete crocante de peixe do Bob’s Bar na Cristóvão Colombo, 36, era acompanhado por um divino molho remolado. O filé alto do Stylo Bar na Independência vinha de uma latinha cheia de furos onde o filé era socado, banhado pela banha de porco. No bauru, usava-se pão cervejinha.
A melhor empada do país era do Big Ben, minúsculo Bar, na Marechal Floriano com Otávio Rocha, rua que abrigava o Lilliput, do Zé Ávila, perto da Renner, outro nome de respeito. Na transversal, o Hubertu’s com almôndegas crocantes.
Tudo que era sólido nos anos 1960 se desmanchou no ar. Só ficaram lembranças de cheiros e odores e fantasmas esvoaçantes que só se mostram para quem viveu aquela época.