A máquina do tempo
De repente, vi-me de volta ao final dos anos 1960, durante o regime militar, quando a censura atingiu principalmente os jornais. O alvo maior era o Estadão, que substituía as notícias censuradas por receitas culinárias.
Nas demais redações vigia o silêncio obsequioso. Havia algumas questões sagradas, como falar em guerrilha, terrorismo dos grupos de esquerda, drogas.
Pois com a censura imposta hoje, não só em jornais, mas em rádios, TVs com acréscimo das redes sociais, em um passo de mágica voltei àquele tempo. Só dói quando rio.
E falando em vi\agem no tempo, fico alegre ao recordar os Kerbs da minha juventude. Era o dia (ou semana) do santo padroeiro.
Os padres mandavam muito naquela época. A ponto de proibir os fieis a ir a bailes de Kerb se fossem no sábado.
Os donos de salões tiveram que curvar a cabeça. Então, baile só domingo. Não raro, havia baile nas segundas e terça também. Tudo começava depois da missa solene das 8h.
Ao meio-dia, as famílias esperavam os parentes que moravam em outras cidades e as recebiam com um lauto almoço regado a chope.
Os barris eram comprados com empréstimo da bomba, gelo e serragem, pois a madeira é um poderoso isolante térmico. As barras de gelo eram picadas e misturadas com a serragem e depois enterradas ao lado dos barris.
Comida típica alemã, que salivo cada vez que lembro dos filés de porco à milanesa, assado de porco, massa caseira, salada de maionese e um bufê de sobremesas. Eu era e ainda sou tarado por pudim.
A partir das 18/19h, às bandinhas começaram os bailes. Havia uma curiosidade que até descendentes de alemães das cidades desconhecem. Tão logo a bandinha entrava no salão, formavam-se grupos de pessoas encarapitadas nos ombros de outros para tirar uma garrafa de cerveja amarrada na parte mais alta do teto.
Seria normal não fosse o detalhe: quem arrancava a garrafa deveria pagar a primeira rodada para todos os presentes. Acreditem, todos queriam ter essa despesa.
No fim da madrugada, serviam linguiça fervida, café preto e cuca para recarregar as baterias.
A volta das pesquisas
Todo mundo deixa de acreditar nas pesquisas até que surja uma nova. Profissionalmente, não devo me envolver emocionalmente com os resultados. Distanciamento crítico é a palavra de ordem. Ao contrário do jornalismo de hoje, praticado por muitas redações, não se brigava com a notícia. E o que elas estão dizendo?
Estão dizendo que a distância entre Lula e Bolsonaro diminui mais um pouco, que seis ou sete pontos hoje são quatro, falam que Lula estacionou e Bolsonaro está quatro pontos atrás do petista. Provisoriamente. Amanhã tudo pode mudar.
Day after
Acredito que teremos muito mais votos nulos do que no primeiro turno. E que vai ser pau a pau entre os dois, com Bolsonaro tendo reais chances de chegar lá se acelerar mais um pouco no início da semana que vem.
O que me preocupa é o dia seguinte. Ganhe quem ganhar, vai acentuar a divisão no país. Ciro Gomes já disse que, se Lula ganhar, o Brasil vai amanhecer com possibilidades de um entrevero social. E se Lula ganhar, vai comer uma beira para conseguir governar com o Congresso majoritariamente bolsonarista.
Também não acredito que Lula vá fazer concessões ao centro. Os falcões, como Rui Falcão, um dos coordenadores da sua campanha, avisou que a agenda vai ser de esquerda e não a que o centro quer. Recado claro, claríssimo.
É possível que as alas mais moderadas – se é que isso existe – da esquerda vão brigar de tapa com os radicais em caso de vitória petista. Não existe esquerda de centro.
Nova Velhinha de Taubaté
Os empresários, Simone Tebet e Geraldo Alckmin que acham possível o governo Lula agradar a Capital. Vai ser pau puro.