Mar vermelho

9 set • NotasNenhum comentário em Mar vermelho

Cerca de um milhão de flamingos se reúne uma vez por ano em um lago na África central para o ritual de acasalamento. Um milhão até um satélite é capaz de ver . E é claro que uma águia africana também vê.

Então ela sobrevoa aquele mar vermelho e mergulha certa que terá o jantar garantido, talvez até o almoço do dia seguinte. Em boa parte das vezes, ela não pega nenhuma ave de pernas vermelhas. A explicação é que são tantas que, no mergulho, ela muda a mira de uma para outra. Quando chega em cima, o jantar voa embora.

É o que acontece com a internet. Há um milhão e até dezenas de milhões de informações disponíveis – entre bobagens e coisas úteis – que o internauta acaba não pegando nada ou apenas as bobagens.

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Jornalistas são como esses predadores, só que alguns têm olho mais treinado que outros e, antes de mergulhar, já sabem o que é carne de segunda e o que é filé. Esse é o grande problema da web. Tem muito flamingo acasalando e dando crias sem sabor. Pior, falsos.

Perdidos no espaço

Fosse apenas classificar flamingos de informação pela aparência seria passável, mas tem que abrir bem o bicho para ver o que tem nas entranhas e extrair o que interessa e principalmente para estocar no freezer da memória. E não cabe tudo. Assim como essa ave acasala, boas informações dão crias em forma de associações de ideias, em que o A e o B não significam nada mas a junção das duas é algo realmente útil, o filé.  

https://cnabrasil.org.br/senar

Os inocentes

Na política partidária e neste ano eleitoral, os candidatos têm um passadinho ou não tem nenhum. Mas tratam de vender seu flamingo para merecer a atenção da água do voto.

Na maioria das vezes, é carne de terceira. Sobram penas e penas de gabolice ou mentiras ou promessas vãs e inexequíveis. Isso quando não vem o pacote completo genérico, educação, saúde e segurança.

A grande muralha

Tenho entrevistado ou falado com quase todos os candidatos a governador do Estado e observei que quase todos têm a deficiência que vivo enfatizando nos meus escritos, a falta de conversa de bar. Um exemplo é a segurança pública sob a luz das facções que traficam drogas e se enfrentam até a morte, inclusive de inocentes, como observa o excelente repórter Humberto Trezzi, de Zero Hora. Os chefões tratam do atacado, e os bagrinhos se especializam em decapitar adversários ou sair por aí metralhando participantes em bares e danceterias.

Uma vida no inferno

O furo é muuuito mais embaixo. Como até Uber não entra em áreas sob seu controle – vão até a fronteira e, do lado de lá dessa cerca invisível, tem um aplicativo de confiança. Bobeou, morreu.

Cobram pedágio dos pequenos comerciantes ou de vans de entregas, coisa assim de Chicago de 1930. Bala na Cara, Antibala, Os Manos… têm ramificações por todo o interior, incluindo pequenas cidades.

A droga é contagiosa. Significa o Estado dentro do Estado. As forças da lei fazem o que podem, mas o poder de fogo e a falta de limites torna esses soldados do Crime S.A. mandando e desmandando. Os caciques ficam com o dinheiro, é é muuuito dinheiro. Bagrinho que morre tem três ou mais suplentes.

O Brasil real, a cidade real, poucos políticos conhecem. Também acontecem casos em que ele sabe tudo do Estado dentro do Estado, mas nada da economia real e seus agentes. Enfim, os que sabem como as coisas funcionam ou devem funcionar. É como um gatinho de madame em baile de leão ou cobra d´!água em baile no Butantã.

Esse é o drama da águia da Era Digital. Muito flamingo. Pegue um governador. Quantos documentos ele precisa assinar diariamente sem ler? Ele é o ordenador de despesas. Ora, para entrar em fria basta alguém colocar um papel comprometedor no meio da pilha.

Bem mais complicado que em tempos idos, quando todo chefe ou patrão tinha na escrivaninha duas caixas, uma onde se lia Entrada e na outra Saída. Mas eram tempos de alimentar burro com pão de ló e amarrar cachorro com linguiça.

Metaverso

Hoje, você caminha na rua olhando bem se a sombra é a sua ou é alguém que quer matar quem a causa. Mas esse é o pequeno empreendedor. Os grandalhões não temem nem a polícia nem a lei, apenas fecham um olho porque muito sangue é ruim para os negócios.

Percebeu que está tudo de cabeça para baixo? Eles permitem que você viva e trabalhe. O lado real é o deles, nós somos metaverso vivendo de fantasias.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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