Manual do urubu
Digamos que você ganhou uma Mega Sena acumulada. Com a boca nas orelhas, vai pensando em como contar ou não contar para amigos e a família. Surgem três cenários.
Cenário 1
Você conta para a família, dá um chute na canela do patrão, convida os amigos para o melhor restaurante e já sai gritando que a conta é com você, essa é muitas outras.
Resultado: você está ferrado. Vão aparecer urubus, parentes distantes, alguns que nunca ouviu falar, e depois de beijos e abraços começam os pedidos de ajuda, do primo desempregado à amiga com quem deu uns pulinhos querendo botar peitos novos. Em dias, sua vida será um inferno. Em menos de um mês teme ser sequestrado e se arrepende da sua boca grande.
Ao anoitecer, sua casa está cheia de urubus.
Cenário 2
Não conte para a família, só para a mulher e um que outro amigo mais chegado. Está igualmente ferrado. No primeiro porre, o amigão abre sua boca de jacaré, a mulher conta para a mulher que faz suas unhas do salão de beleza pedindo pelo amor de Deus que ela não conte para ninguém, a mesma frase que a amiga da onça dirá para colegas, clientes e amigas sobre o mesmo assunto.
Alguns dias depois, há uma fila de urubus no teto da sua casa ou na portaria do prédio. Demoraram, mas chegaram.
Cenário 3
Você não conta para ninguém da sua família e amigos, nem para sua mulher que ama tanto, salvo para seu gerente de conta. Dificilmente aparecerão urubus. Aplique o dinheiro, fique na moita, siga trabalhando normalmente sem esbanjar e espere a poeira sentar. Até pode ir na lotérica onde apostou e faça a melhor cara de pau do estoque, perguntando se sabem quem é o felizardo. Mas não demonstre alegria mostre a cara “pôxa, deveria ter sido eu”.
Um ano depois, diga para a família que aplicou a poupança em um ativo de risco, e deu certo. Mas nunca diga quanto, por que urubu sente o cheiro de sangue a 1,5 km. Se for solteiro, escolha temporariamente um país para morar.
Urubu estrangeiro não sente cheiro de sangue brasileiro.