A pandemia dos camelôs virtuais

6 jul • ArtigosNenhum comentário em A pandemia dos camelôs virtuais

Por Daniel Grajwer

Minha filha queria muito uma chuteira de futebol, e o tio dela presenteou-a com o artigo esportivo. Porém, após usar apenas uma vez, ficou com dores insuportáveis nos pés que demoraram entre um ou dois meses para sarar.

As suspeitas eram bem vagas, uma vez que o calçado era de uma marca bastante conhecida e apropriada para o esporte. E depois de uma profunda busca comparativa veio a confirmação: a chuteira era falsa. Quando questionado, assustado o tio abriu o site de um dos maiores e-commerces da América Latina, fez a busca e estava lá, o primeiro link, no qual ele realizou a compra.

A pergunta do milhão é: como vamos saber que aquela loja, dentro do site de vendas online que reúne multimarcas famosas, vende produtos originais?

Saímos da garantia de um site que poderia nos eximir de qualquer produto contrafeito, para a versão virtual do que há muito acontece nas ruas. Aquele lojista que paga todos seus impostos compete com a banca de rua, ou lojinhas de galerias, que vendem ou mercadorias roubadas ou mesmo falsificadas.

Então, pensamos, temos dois tipos de Brasil, o que defende a lei do consumidor, que tem o direito de saber exatamente o que está comprando; e o Brasil da máfia, que está nas ruas e lojas virtuais enganando com produtos frutos do crime, embora sejam os únicos comércios acessíveis a grande massa trabalhadora do nosso país.

Além de toda a problemática do comércio, entramos também na esfera das questões prejudiciais como produtos tóxicos, como exemplo bebidas alcóolicas, que colocam a vida humana em risco.

Ou seja, todo esse contexto, sem a ferrenha fiscalização, deixamos de colaborar e, mais ainda, prejudicamos as pessoas que estão seguindo as leis, e corroboramos com o crime organizado. E, no final desta matemática, o consumidor quem fica com a conta a ser paga, afinal, acredita que comprou um produto original, contando com a qualidade da marca, e recebe um paralelo. E não podemos contar com os sete dias para a troca, uma vez que por vezes demoramos a descobrir que o produto é falso, afinal, não temos a expertise no assunto.

Quando levamos para o panorama da loja física, ainda conseguimos distinguir uma multimarca, por exemplo, que assegura que aquele produto é original. Porém, quando estamos no cenário virtual, nem sempre é assim.

Os grandes sites de e-commerce são proporcionais aos shoppings físicos renomados, e quando imaginaríamos que o produto adquirido é fruto de furtos, roubos, fraudes, contrabando, entre outros?

A primeira solução que nos vem a cabeça é a fiscalização dentro do próprio site de comércio eletrônico, mas não podemos esquecer que isso não é necessariamente interesse deles, não existe incentivo, uma vez que se comportam como meio de pagamento, no qual eles têm uma porcentagem em cima do produto vendido.

Existem algumas soluções tecnológicas, na natureza do blockchain que irão ajudar no combate dessas atividades. Infelizmente, não acredito que a solução virá do Congresso Nacional ao instituir políticas públicas para impedir essa problemática. Isso nos traz um problema ainda maior, quando há intervenção do governo, ele logo tem o interesse de criar mais uma autarquia para fiscalizar que aumenta os custos de arrecadação com impostos, mas não necessariamente traz valor social compatível. Então se uma agência reguladora que irá burocratizar não é a solução, o que funcionaria?

Além de incentivar o debate, exigir como consumidores que estes sites comecem a tomar atitudes que demonstrem com “selo” quem são as lojas confiáveis de marca, talvez uma regulamentação privada através do seguro onde o cliente tenha a garantia de retorno se o produto for falsificado ou contrabandeado. Gritar para que o exército proteja melhor as fronteiras, pressionar para um estado menor, onde ao decrescer os impostos o incentivo pelos caminhos escusos diminui.

Ainda, grandes marcas precisam se unir para apoiar tecnologias e movimentos de combate à pirataria e o contrabando. Afinal, é o nome deles que está em jogo.

Nada simples, ou mesmo fácil, mas pelos seus familiares e os meus, algo precisa ser feito.

Jornalista, autor e economista pela universidade Haptuha de Israel

ATENÇÃO: As opiniões publicadas em artigos não necessariamente são as do editor deste blog.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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