Les revenants. – Aqueles que voltam

2 maio • NotasNenhum comentário em Les revenants. – Aqueles que voltam

Ou os fantasmas, em francês. Sonhei um sonho bem sonhado que meus amigos mais chegados, falecidos, do tempo de adolescência até os 20 e poucos anos, haviam me procurado para lembrar os velhos tempos em que éramos uma turma. Lembro vagamente de ter ouvido censuras por eu continuar vivo enquanto eles faleceram relativamente jovens.

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Acordei naquele estágio em que você fica estremunhado, meio desperto, meio dormindo. Então me pus a fantasiar.

Eu falei que ofereceria um lauto jantar para eles e as namoradas, maioria futuras esposas, para rir um pouco, beber e comer o que há de melhor. Seria no meu hipotético apartamento com cobertura. Mandaria buscá-los e levá-los de volta para onde quer que fosse. Eles acharam a ideia muito boa e só não acharam excelente porque estavam mortos.

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Éramos sete, 14 no total. Contratei, na minha fantasia, o melhor Chef, sommelier, garçons impecáveis com luvas brancas. Vinhos chilenos, argentinos, vinho verde de Portugal, espumantes, todos de primeira.

A entrada seria o presunto Pata Negra espanhol, e trufas de verdade. Prato principal de camarões infantes em várias formas e o rabinho da lagosta, a melhor parte. Sobremesas com chocolate belga e doces de Pelotas mais licores diversos.

Em um determinado momento da minha fantasia, foi tudo muito real.  Comemos, bebemos sem ficar bêbados, rimos, lembramos histórias do colégio, das reuniões dançantes, bailes no Clube Riograndense, noitadas regadas a chope e comendo galeto no Galeto Regina ou do Beppe. As namoradas não ficariam ciumentas e neca de bronca.

Foi algo realmente mágico.  A fantasia se misturou com cenas reais vividas nos anos 1950 e primeira metade dos anos 1960. Rumos dos professores, dos tipos folclóricos da cidade.

De vez em quando todos ficaram sérios, alguém lembrou uma história triste. Não, eu disse para os revenants, neste jantar não se fala em tristezas passadas. E foram horas de lembranças até depois das sobremesas e café.

De uma hora para outra todos ficaram sérios novamente. Não sei quem falou, acho que o Bodã, Sergio Mottin, o primeiro a morrer, bem jovem.   

– Está na hora, nosso amigo vivo. Temos que voltar de onde viemos. A festa estava muito boa. Em algum dia nos farás companhia.

Neste ponto da conversa, fiquei na dúvida se era fantasia ou realidade. De fato acho que foi muito real o que o Bodã falou. Um a um eles foram embora sem fazer ruído e sem dar adeus.

Os revenants voltaram de onde vieram. Fiquei sozinho na enorme sala de jantar. Garçons, cozinheiros, todos sumiram como neblina quando o vento sopra forte.

Princípio do tambor

Parece que a semana curta que  começa hoje terá grandes novidades,  começando pela CPI mista que deve analisar os acontecimentos de oito de janeiro, paralelo ao tal de arcabouço fiscal. Neste caso, saberemos quem vai pagar mais e menos imposto.

O certo é que nunca um governo faz uma reforma fiscal para perder arrecadação. Como se diz na Fronteira, cachorro comedor de ovelha só matando

Atenção: esta frase não deve ser considerada como um incitamento a qualquer coisa que remeta a um golpe. Tem muito careca lá em riba que é capaz de levar metáfora ao pé da letra.

Quanto à CPI, salvo uma dessas aparições do imponderável, deve terminar como um tambor: bate, faz um barulho desgraçado; fura, não tem nada por dentro. 

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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