Fuscas e fucas

3 jul • A Vida como ela foiNenhum comentário em Fuscas e fucas

Se hoje os jovens não curtem mais o carro próprio, nas décadas de 1960 até 1970 eles iam à loucura para ter um, nem que fosse usado. O hobby maior era incrementar o possante, começando pelo câmbio, onde se colocava bolas de vidro ou plástico transparente com peixinhos de mentira por dentro. O equivalente a pinguim na geladeira.

No painel, muito limitado na época, era imprescindível ter um conta-giros, para aferir o giro (RPM) do motor. Quanto mais reloginhos, melhor.

Também se tirava o miolo da surdina como fazem hoje os motoboys. O senhor era “cano reto”, escape direto do cilindro. O barulho era horroroso, mas a ideia era essa.

Motores envenenados era outro papo e outro custo. O VW tinha 36 HP, fazia de 0 a 100… em algum momento.

A tala larga, pneus mais largos, apareceram em 1965 na esteira dos bólidos de corrida. Sucederam os pneus banda branca, febre até essa época. O sonho de consumo era o fusca incrementado – na época falávamos “fuca”.

Outra bossa era colocar antenas de rádio altíssimas e direção de F1. Atraía o mulherio, não precisava nem cursar Medicina para receber olhares lânguidos.

Médicos significavam proteção e boa vida. Depois, Odonto. Jornalismo? Fugiam deles. Todos matando cachorro a grito.

Das outras profissões, ser funcionário do Banco do Brasil também garantia vida boa. No inícios dos anos 1960, o inicial de um contínuo (boy) do BB era de 18 salários mínimos mais gratificações, em torno de 15/6 salários/ano.

Outro sonho de consumo era ser sócio de um clube social. Clube do Comércio, Teresópolis TC, Leopoldina Juvenil, Petrópolis, SAT (Tramandaí) e SAPT (Torres) eram alguns que tinham fila de espera. O top mesmo era clube com piscina. Comida para ostentar era fricassê de galinha, Estrogonofe – guisadinho metido a besta – , Peru à Califórnia.

Galinhada era coisa de pobre. Uísque ou “champanhe” só para rico, ou se cotizando nos bailes de Carnaval. Naqueles tempos, os espumantes eram feitos de vinho branco de última, quase restos. Por isso, o general Flores da Cunha cunhou a frase, “Vinho gaúcho dá azia até em copo com bicarbonato”. Mudou muito, ainda Bem.

Se tivesse pelo menos um fusca incrementado e veraneasse em Torres, você podia sonhar alto. Para mostrar quem era o rei do galinheiro, a moda era ficar encostado no carro girando a chave entre os dedos. Pobre, encostava-se em carro alheio e a chave era da casa ou da pensão. 

Mas essa já é outra história.

https://www.brde.com.br/

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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