De pernas pro ar
O mundo, triste mundo, chegou a um ponto que não se sabe mais o que é certo ou o que é errado. É uma ironia fantástica o fato de, em plena Era de Facilidade de Comunicações, não consigamos nos comunicar sem perigo de receber alguma falsidade de volta.
As notícias falsas são em maior número que as verdadeiras. E, e mesmo estas, mais confundem do que esclarecem. E sabem por quê? Porque ninguém sabe rigorosamente nada sobre quase tudo, incluindo eleições.
Se você ler o noticiário político dos jornais chega ao final sem saber se a terceira via é natimorta, se João Doria vai ser expelido pelos caciques tucanos, se o ex-governador Eduardo Leite está ou não na parada, se é verdade que a campanha de Lula é bombardeada pelos próprios dirigentes petistas, se a diferença entre ele e Bolsonaro de fato caiu e se Simone Tebet vai ou não ser chutada para escanteio.
De todas essas tricas e futricas alguma coisa é iluminada pela luz da certeza. No caso das pesquisas, todas elas mostram que o percentual dos pesquisados que votariam em Lula permanece praticamente o mesmo desde o início do ano. Então resta saber se Bolsonaro caiu ou subiu e quanto. Nem por isso dá para saber como será o amanhã.
Na gangorra
Sobe e desce é o lema de eleições complicadas e polarizadas como essa de 2022. Os índices de rejeição oscilam e imagino que sejam eleitores indecisos que, na dúvida, pulam de um canto para outro.
Sempre digo que, em início de campanha, tem o voto chute no balde. O cara acorda mal-humorado, a inflação comeu seu salário, a vida está uma bosta ao quadrado e vem o pesquisador perguntar em quem ele vai votar. Pode ser o balde mais próximo e, no fim do dia, ele pode cambiar de intenção de voto.
No fundo, toda a visão de mundo depende do jeito que você acorda.
A guampa torta do sacristão
Parece aquela história do sacristão que todas as manhãs leva sorridente a bandeja do café da manhã para o bispo.
– Bom dia, vossa excelência reverendíssima! O dia está maravilhoso, o café foi feito na hora, o pão está fresquinho, a manteiga é de primeira e os fiéis lotam a igreja.
Um dia, o sacristão acorda com a guampa torta e esgotou a cota de respeito. Entrou com a bandeja no quarto do bispo e, antes que pudesse falar, o santo homem corta o lero.
– Já sei, o dia está lindo, o café é fresquinho, o pão e novo, a mant… Foi a vez do sacristão interrompê-lo.
– Não mesmo! Tá chovendo pra caramba, não é café, é chá, o pão é da semana passada e não é manteiga, é margarina que o senhor detesta e não tem fiel porra nenhuma.
Largou a bandeja na mesa com estardalhaço e foi embora bufando.
Pois o cidadão comum tem vontade de fazer a mesma coisa se tivesse um bispo à mão. Como não tem, descarrega no candidato mais próximo, já que na patroa é perigoso.
Não só ele. Também tenho vontade de ser sacristão.
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