Cuca, um patrimônio gaúcho
Santa Cruz do Sul sedia a tradicional Festa das Cucas, evento que faz parte do calendário turístico do Estado. Tudo bem, tudo certo, mas ela é injustiçada.
Por um daqueles modismos bem nossos, nas festas de final de ano e na Páscoa, o público prefere o borrachudo e alienígena panetone em vez do produto originário das regiões de colonização alemã. Claro que existem panetones bons. Mas a maioria é uma massaroca.
Viva as baixinhas
A cuca não é apenas massa com farofa por cima. Cuca de massa de pão é o que mais se vê. Tem que ter massa de cuca, ora bolas! O que exige conhecimento de causa.
E digo mais: cuca alta não mesmo, é pão com farofa. Dito isso, esta bela invenção sai das padarias de Santa Cruz, as melhores, as baixinhas, as mais gostosas.
Pura ou misturada
Nas colônias alemãs, a cuca que reinava era a clássica. Lembro delas, nada de recheio, que só veio mais recentemente.
De certa forma, recheio de doce de leite, de coco ou outro entulho podem disfarçar a baixa qualidade da massa. Mas tudo bem, que seja. Entretanto, quero traçar meu Tratado de Tordesilhas: cuca clássica não leva recheio.
O grande desafio
É fazer uma cuca tão boa que dispensa recheio. Mas nesse particular estamos copiando a mania norte-americana nos lanches, botar vários tipos de queijos, carnes e molhos que parecem suruba de ingredientes. Que acabam por ocultar o sabor de uns aos outros.
O inferno na boca
O hedonismo delirante chega a tal ponto que colocam vários tipos de pimentas, algumas necessitam de bombeiros de plantão e uma vaca a dar leite na hora, antídoto para o ardor infernal.
A linguiça nossa de cada dia
Ouvindo as conversas de um programa de rádio em que assuntos aleatórios tiveram mais ênfase que notícias que mereceriam destaque, concluí que alguns radialistas são peritos na arte de encher linguiça com ar.