Conversa de Gavião

17 jul • A Vida como ela foiNenhum comentário em Conversa de Gavião

Não eram fáceis os plantões de fim de semana da reportagem policial nos idos de 1969. Doze horas percorrendo delegacias, HPS, ligando a toda hora para os bombeiros e cobrindo homicídios e acidentes nas cidades vizinhas, voltando para a redação de ZH e retornando para as ruas em seguida. Piorava quando coincidia com o dia do pagamento, dia 30 na época. 

Foi um ano em que a Polícia Civil se modernizou, com equipamentos melhores e radiotransmissores portáteis. Se é que dá para chamar um troço de três quilos de portátil.

Quem comandou os novos tempos foi o delegado Wuilde Pacheco, depois piloto de helicóptero, que andava com um a tiracolo 24 horas por dia.  Wilde impôs novas regras na comunicação entre os rádios das viaturas, não tolerava mais. “Osvardo, vou pegar um rango ali no Roma”. Não senhor, era como nos filmes americanos nos rádios SSB.   

Pois foi numa sexta para sábado que eu peguei um plantão daqueles. Haja Bic e laudas para anotar os detalhes. Antes de mim, o plantão fora do repórter Demétrio, que era baixinho, então o chamávamos de Demétrio e meio. 

Entrei sozinho no posto policial no HPS – fotógrafo não podia entrar. Os dois inspetores estavam nas enfermarias entrevistando vítimas de violência. Num canto, o rádio revelava conversas entre viaturas. Levei um tempão esperando que um dos inspetores voltasse, para colher as novidades.   

– Gavião um para Gavião dois. Estou indo para o ponto A. Câmbio.     

– Ciente Gavião um. Em 10 minutos estarei no ponto A. Câmbio. 

Tive uma ideia maligna. Como ninguém mais estava na sala, resolvi dar uma de tira.   

 – Gaviões um e dois, aqui Gavião três .Também estou indo para o ponto A.   Silêncio. Longo. De repente uma voz trovejou no rádio. Era o Wuilde.   

 – Não existe Gavião três, quem é o palhaço que está falando?   

Devo confessar que sai de fininho antes que alguém me descobrisse. Fiquei Gavião três só um pouquinho. Mas a sensação foi boa.

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Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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