Chuva eterna
Choveu uma semana inteira na Porto Alegre do final dos anos 1970. Era água e água que Deus mandava. Quando abriu o sol, sábado ao meio-dia, Ernesto Moser saiu do seu Restaurante – Dona Maria – no instante em que eu estava entrando. Homem de três nacionalidades – austríaco de nascimento, brasileiro por adoção e alemão fiadamãe ladrão quando o cliente recebia a conta – detestava chuva.
Esticando os largos suspensórios, ergueu a cabeça totalmente careca em direção ao astro-rei, que estava voltando de licença-prêmio. Nisso ia passando seu Guterman, um velho simpático que escondia seu atilado senso de humor com o véu do pessimismo. Moser falou:
– O que acha desse sol maravilhoso?
– Och, amanhã chove de novo, Arnesto.