Cheiro de cavalo
Nos anos 1960, um general agastado com as críticas que recebia, e sendo exímio cavaleiro desde a mais tenra infância, desabafou que, em vez do cheio da cidade, ele preferia “cheiro de cavalo”. Pois eu entendi o homem.
Para quem tem um pé fora da cidade grande e foi embalado pelo mugir das vacas leiteiras, o relinchar dos cavalos, o mééééé das ovelhas e até dos burros zurrando. Cheiro ruim é do diesel queimado e da gasolina mal queimada pelos motores dos carros da cidade grande, uma nuvem que respiramos, queiramos ou não.
A hora final
Um amigo mandou um e-mail contando como ficou maravilhado com um lar para idosos de Canela, cidade vizinha a Gramado RS, com freiras cuidando dos mínimos detalhes para tornar os idosos moradores de um céu na terra. Claro que isso custa dinheiro, mais precisamente R$ 7 mil por mês.
Como ainda não cheguei a esse ponto de depender de terceiros, imagino que a única queixa ou amargura dos velhinhos seja a aproximação do final da vida, uma condição que nem o maior bilionário escapa. Não há dinheiro para evitar a morte. Com parágrafo único: com dinheiro, a velhice pesa menos.
Sempre digo, no final da resposta, quando perguntam minha idade “provisoriamente”, o mesmo que uso quando perguntam como está minha saúde e respondo que ela está bem. Provisoriamente, é outra condição humana inescapável.
O presente vira passado num milionésimo segundo depois. Deus queira que o meu bom humor não seja provisório. Pretendo rir até o último suspiro. Não devo esquecer de combinar isso com a doença e a morte.
Uma pergunta dolorosa
Há coisa de 20 anos, um amigo que construiu um hotel que não deu certo teve a ideia de transformá-lo em abrigo para idosos com dinheiro, ele ou a família. Às vezes, eles têm o vil metal, mas não querem aplicá-lo para tornar a vida dos pais mais confiáveis.
O que leva à velha pergunta: como é que pode um pai dar educação, ensino e comida para seis ou sete filhos e, quando fica velho, estes seis ou sete filhos não conseguem sustentar um pai sem jogá-lo num depósito de velhos? Fecha parêntesis.
Pois esse amigo adaptou o prédio para este fim, e em vez de uma campanha publicitária resolveu ele mesmo ser a agência. Pediu a um amigo que fizesse um layout do anúncio e solicitou em um almoço que déssemos nossa opinião. Tsk tsk tsk, falamos todos. O amigo desenhista e publicitário tinha bolado um texto com esta chamada.
QUEM MORA AQUI NÃO QUER MAIS SAIR.
Falamos que os idosos poderiam levar a chamada ao pé da letra aos gritos de “eu fora!” Ele concordou, falando que não tinha se dado conta desse erro celestial. Então voltou ao tal publicitário e pediu um anúncio diferente. Duas semanas depois veio o layout da peça publicitária.
QUEM MORA AQUI VIVE PERTINHO DO CÉU
De novo, olhamos para ele fazendo tsk tsk tsk com a boca. Onde já se viu dizer para um velhinho que ele está pela bola 7 e pronto para entrar no portão de acesso para ver anjinhos assexuados tocando harpinhas e sininhos de tão perto que estavam deles?
No fim, o dono desistiu de fazer o tal lar para idoso rico. Não houve demanda devido ao preço que seria cobrado.