Brasil de torto a direito

18 maio • Notas1 comentário em Brasil de torto a direito

Parte da letra do tango Cambalache, de Julio Sosa:

Que el mundo fue y será una porquería, ya lo sé
En el 510 y en el 2000 también
Que siempre ha habido chorros, maquiavelos y estafa’os
Contentos y amarga’os, valores y doblé
Pero que el siglo 20 es un despliegue
De maldad insolente, ya no hay quien lo niegue
Vivimos revolca’os en un merengue
Y, en el mismo lodo, todos manosea’osHoy resulta que es lo mismo ser derecho que traidor
Ignorante, sabio o chorro, pretencioso estafador
Todo es igual, nada es mejor
Lo mismo un burro que un gran profesor

O Brasil, meu Brasil brasileiro

É um país maravilhoso tirando o que está ruim desde sempre. Apesar de tudo, seguimos rindo e sobrevivendo.

Com esses 55 anos de jornalismo na cacunda, queixo-me que vamos perdendo senso de humor. Não confundir rir/risadas com senso de humor.

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Se o brasileiro cordial é uma lenda, é bem verdade que tínhamos uma grande capacidade de rir de nós mesmos. Até nos tempos mais dutos, com uma crise em cima de outra, lá vinham piadas sobre a situação.

Cacacas ao vento

Não que devamos confundir piadas com senso de humor, repito. Mas a azáfama da vida moderna nos levou a um tal estado que só pensamos em sobreviver e ter dinheiro para trocar de celular.

https://cnabrasil.org.br/senar

Esse é o nosso nirvana. Entrementes, o brasileiro compartilha fake news alertando “isso é fake, não compartilhem”. Mas já espalharam a cacaca.

Galeria do mau humor

Sobre senso de humor, ninguém melhor que os ingleses e ninguém pior que a esquerda brasileira. Aliás, a esquerda como um todo não tem essa capacidade. Até o alemão ganha dela.

Nos anos 1990, chamava atenção o fato que os santinhos de candidatos do PT mostravam caras sérias, emburradas até. Várias vezes escrevi alertando para esse fato. O rosto é o espelho da alma.

Coincidência ou não, mais para o final daquela década a propaganda eleitoral dos candidatos do PT passou a exibir caras sorridentes. Mas de uma forma tão artificial quanto uma nota de 30 reais. Não adiante, está no DNA.

Pois, ao longo dos últimos anos, tenho observado algo muito interessante. Os superricos e os superpobres fazem das tripas coração para rir nem que seja da própria desgraça, no caso do porão. Na cobertura  do prédio, menos sorrisos e mais rugas de preocupação.

Vai longe o tempo em que se dizia que rico ri à toa. Talvez por não ter o hábito de ler jornais, a camada do porão não se estressa tanto. Jornal foi feito para alarmar o povo, digo isso desde os anos 1970.

A arte de duplicar a tragédia

Já os pobres e classe média desenvolveram uma capacidade enorme de curtir desgraças. Quanto mais, mais eles curetem.

Quando é gente famosa os comentários sobrevivem por semanas e até meses. E a mídia faz gosto. Depois do fato trágico ocorrido, lembram periodicamente do evento a cada 30 dias, seis meses, um ano e até 10 anos.

Os telejornais desenvolveram uma forma eficiente de prolongar sofrimento. O ou a repórter enfiam o microfone na cara dos indigitadas vítimas e lascam a infame pergunta “como é que você sente”. Fosse comigo, eu inauguraria o primeiro microfonecídio da história.

Para fazer um upgrade, após a reportagem o ou a apresentadora faz uma cara de choro sem chorar. Sejamos francos, a sociedade brasileira adora uma tragédia. Só perde para a mídia.

Lembra o Sofrenildo, do meu amigo chargista e cartunista SamPaulo. Perdia todas.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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One Response to Brasil de torto a direito

  1. Maria Lucia disse:

    Obrigada por lembrar do Sampa!

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