Boates gente fina
No tempo das boates gente fina de Porto Alegre, não as boates confundidas com cabarés prenhes de moças de vida pretensamente fácil, a avenida Independência sediou várias delas na segunda metade dos anos 1960. Wiskhy Agogô, na esquina com a Garibaldi, Locomotive, Vila Velha e o Butikim – a mais cara e com acesso proibido para menores em saldo bancário.
A casa de sopas e filés Tia Dulce, a 30 metros da Santo Antônio, varava a madrugada tripulada pela tia, sua irmã e o marido da tia, seu Cassel. Entre uma sopa de cebola e doutra, contava sua vida como oficial do Exército dos EUA na II Guerra Mundial, apesar de ser alemão. Para ilustrar, mostrava sua pistola .45 que trouxe de recordação. Bom de trova.
Um cliente diário era o costureiro espanhol Catani, que morava no mesmo prédio. Ficava rente ao balcão. Ostentava uma bela cabeleira negra. Mas à medida que as horas passavam, as melenas se revelavam uma peruca, que impiedosamente caía de lado resvalando no crânio reluzente.
Também houve o caso de um jornalista, que resolveu tomar um porre na noite em que sua ex-namorada casou com seu melhor amigo. Findos os trabalhos etílicos, limpou a boca com o guardanapo e proclamou.
– Vou quebrar o bar.
E quebrou mesmo. Tempos estranhos e belos, belos porque estranhos. Houve outro caso de quebradeira, mas de maxilares e costelas. Furiosos porque foram barrados no Butikim, nome inspirado no filme russo Encouraçado Potemkin, seis odiados resolveram descontar em alguém. No lado oposto da Independência havia uma carrocinha de cachorro quente; sentados no banco, um japonês com sua namorada. Resolveram mexer com a moça.
Mala suerte. O japuca era faixa preta de karatê, arte marcial ainda desconhecida na época. Resumindo, quebrou os seis odiados, que acabaram no HPS. Para aliviar o mico, prestaram queixa no plantão. O inspetor ficou furioso.
– Como é? Seis apanharam de um e ainda querem registrar queixa?