A mosca
Estava o boi pastando nos campos doados pelo Senhor quando uma mosca pousou num tufo grama mais alta. Com a pachorra comum aos bovinos quando pastam e os olhos olhando para lugar nenhum, o boi encheu a boca com o suculento pasto sem dar chance para a mosca decolar.
Quando ela se deu por conta, já estava fazendo a curva de Imelmann, meio looping com giro 180 graus no eixo longitudinal, para ganhar altura e mudar a direção do voo. Só que a manobra lhe deu dor de cabeça, porque ela bateu direto no céu da boca do ruminante.
Tonta, apesar do seu DNA de piloto nata, fez uma aterrissagem forçada na língua. Antes que ela pudesse arremeter, as forças G geradas pela boca do boi a prenderam nas bochechas. Dali foi direto rumo a um escuro túnel gosmento.
Já refeita, o eco das suas asas mostrou que ela estava numa caverna escura, com um enorme pé direito. Mesmo tendo de quase seis mil olhos simples, ela não conseguia ver detalhes, só o atacado da coisa.
A infeliz era, literalmente, uma bela de uma mosca tonta. Esta condição fez com ela tentasse loucamente achar a saída daquela arapuca medonha, Então, então voava e dava com a cabeça nas paredes, voava de novo e dava de novo com a cabeça nas paredes. ]
Nestas manobras desatinadas, perdeu 20% dos seus belos olhos cor de furta-cor. Quando o tanque de energia esgotou, ela pousou em um espaço que parecia uma boa cama, mas que na realidade era o interior de uma tripa. Pegou no sono em seguida.
Quando acordou, o boi tinha ido embora.