Aumento de investidores estrangeiros no mercado de capitais brasileiro frente a escolha dos agentes acionais por ativos de baixo risco

14 fev • ArtigosNenhum comentário em Aumento de investidores estrangeiros no mercado de capitais brasileiro frente a escolha dos agentes acionais por ativos de baixo risco

* Por Rodrigo Alcântara

Rodrigo AlcântaraNo âmbito da pesquisa econômica, sempre me interessou a relação da escolha e tomadas de decisões das pessoas e suas interações no mercado eletrônico de negociações de ativos na bolsa de valores. A compra e venda de ativos no Brasil tem correlação com os eventos que acontecem na política e economia, que demonstram em vários momentos o tipo de comportamento e a racionalidade dos investidores em suas escolhas frente ao consumo e ao investimento.

Quando comparamos as tomadas de decisões de investimentos em ativos de renda variável, por exemplo, com a oscilação da taxa básica da economia, a Selic, conseguimos encontrar uma correlação negativa entre Aumento da Taxa Selic e Aumento do número de investidores em bolsa nos últimos 5 anos, ou seja, quanto menor a taxa Selic, maior é o número de pessoas interessadas em comprar ativos de renda variável.

Esse movimento só é possível por causa do entendimento dos investidores sobre a redução da remuneração dos seus recursos em ativos de renda fixa (que normalmente utilizam a Selic ou o CDI como referência para a rentabilidade) e a necessidade de correr riscos em ativos mais voláteis na tentativa de potencializar a rentabilidade dos investimentos.

A era digital e a descentralização dos serviços financeiros frente aos grandes bancos foram os principais motivos para o aumento de investidores em bolsa de valores. Eventos de redução da taxa de juros, por exemplo, já aconteceu em outros momentos na economia brasileira, mas desta vez a redução da rentabilidade em ativos mais seguros surtiram efeitos positivos na escolha por compra de ativos de renda variável, pois os serviços financeiros estão com mais qualidade e o acesso à informação e educação estão de baixo custo, ou gratuitos, na internet. Desta forma, as pessoas conseguem adquirir conhecimento e, consequentemente, tomarem decisões mais agressivas sobre o seu consumo futuro, uma vez que, investimento é abrir mão do consumo presente para consumir no futuro com melhor qualidade.

Dito isso, a bolsa de valores brasileira possuía, de 2011 a 2016, a quantidade de investidores pessoa física de aproximadamente meio milhão, enquanto a Selic oscilou entre 7,25% e 14,25% ao ano. Nos últimos anos, tivemos a menor taxa SELIC da história, chegando a 2% ao ano e hoje a taxa SELIC está em 9,75%. A grande entrada de pessoa física brasileira na bolsa de valores aconteceu no momento em que a taxa de juros caiu para 2% e a bolsa de valores desvalorizou devido a pandemia de Covid-19, iniciada em março de 2020. Hoje, o número de pessoas físicas registrados na B3 ultrapassam 4 milhões.

No cenário econômico atual, a Selic vem se tornando uma ferramenta importante para o Banco Central Brasileiro, no intuito de aumentar a remuneração dos ativos de baixo risco, pois a tendência agora é que os agentes econômicos escolham investir no presente, invés de consumir.

Essa política monetária é fundamental para conter o aumento da inflação, pois uma vez os investidores deixando de consumir no presente, tende-se a equilibrar a oferta e demanda agregada no mercado. Por outro lado, graças a redução agressiva na taxa Selic desde 2019, o número de investidores estrangeiros também reduziu na bolsa de valores e na compra de títulos de baixo risco.

Por consequência, a moeda Real desvalorizou muito frente ao Dólar.

O aumento da taxa de juros de forma acelerada se tornou realidade em grandes países do mundo. A inflação mundial aumentou devido a emissão monetária em 2020 para tentar frear os impactos econômicos na economia real, causada pelo lockdown no combate a pandemia.

No Brasil, o movimento de aumento de juros veio primeiro em relação as outras economias do mundo e também antes da redução do dólar frente ao real, por exemplo. Disto isso, o cenário econômico brasileiro vai se tornando fértil para investidores estrangeiros, pois o dólar e outras moedas estão muito mais valorizadas que a nacional e a taxa de juros da economia está aumentando de forma mais rápida.

A consequência disso é a tendência de crescimento no número de investidores estrangeiros. Muito porque o interesse desses investidores por comprar risco brasileiro, seja ele em bolsa ou em renda fixa.

Essa é a realidade que estamos vendo agora. Hoje a relevância de investidores estrangeiro na bolsa de valores é de 53,2%, enquanto em 2019, antes pandemia, estava em 45,15%. Já os investidores pessoa física, saíram de 18,2%, em 2019, para 21,3%, em 2020, e voltou a cair muito com os dados de janeiro de 2022, corrigindo para 15,6%.

O movimento de entrada de investidores estrangeiros devido ao baixo preço dos ativos em bolsa brasileira, alta taxa de remuneração em ativos de baixo risco e a vantagem cambial vem concretizando juntamente com a escolha dos investidores pessoas físicas nacionais em reduzir riscos, saindo de bolsa para os ativos de baixa volatilidade.

* Assessor de investimentos e economista da Atrio Investimentos

 

ATENÇÃO: As opiniões publicadas em artigos não necessariamente são as do editor deste blog.

 

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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