As senhoras que nos comandam
O mundo não é dominado pela internet. O mundo é dominado pelas senhas. Sem elas, você não acessa sua conta no banco, dados dos cartões, e-mails e WhatsApp. Não abre celular, tablet ou computador, não entra no portal do jornal que você assina.
Nem compras mais volumosas você pode fazer sem a senha do cartão. Nenhuma atividade escapa delas. Podemos dizer que a primeira senha a aparecer no mundo foi a sequência de números dos cofres.
Para entrar em uma sociedade “secreta” como a Maçonaria precisa de uma frase-senha. No mundo do crime, tem uma senha que abre o caminho à sua tribo.
Por exemplo, a caverna de Ali Babá só abria com o “Abre-te Sésamo”. Até para entrar no paraíso da Igreja Católica precisa da senha do batismo. Para viver o bebê precisa emitir uma senha sonora que é o choro.
Há coisa de 10 anos, dizia-se que uma pessoa comum precisava de 23 senhas em média. Número que deve ter aumentado muito. Tudo que é digital precisa dos favores desta astuta e perigosa senhora.
Ela se vinga, porque, se errar três vezes, você fica rua da amargura. E, para obter suas graças de novo, é preciso fazer um chato e espinhento caminho.
Então surge a questão de como decorar as principais, as que são usadas todos os dias, que os idosos não conseguem sem cola. E a vilã do mundo é promíscua, ela se deixa usar quando alguém rouba de você.
Por volta de 2010, os americanos criaram o banco de senhas. Qualquer pessoa física ou jurídica que utiliza um universo delas precisa de um lugar seguro para quando quiser acessar.
Claro que não é só com quatro números e algarismos, esse qualquer computador a serviço do mal descobre. Dizem que ela começa a ser difícil a partir de nove números, letras e sinais ortográficos, e escolhidos aleatoriamente por um computador.
Senhas com datas de aniversários ou nomes invertidos, numeração do seu prédio e apartamento, nome da empresa do primeiro ao quinto invertido. Isso até estagiário de hacker pode descobrir em minutos.
Então, estamos lidando com uma sequência radioativa. Bobeou, dançou. O futuro dessa velha senhora é imenso. Não duvido que até para entrar no céu necessite de uma. No inferno não, porque é como wifi, é sinal aberto. É só clicar e queimar-se com foguinho eterno.
Quando li sobre o banco de senhas, em matéria no New York Times, chamou atenção a entrevista que o CEO deu sobre o assunto. A senha do banco posso até memorizar, mas se for o caso de não lembrar, onde a guardo? A resposta foi simples e estarrecedora. Anote num papel e guarde no fundo de uma gaveta secreta, disse candidamente.
Então vem uma realidade que cai na cabeça como uma bomba. Mesmo com todas essas lantejoulas e continha coloridas virtuais, ainda precisamos do velho lápis e papel.
Doações sinceras
Em cada tragédia como a de agora, com as inundações no Vale do Taquari quando outras em épocas passadas, as doações abundam. O que me incomoda é que todas elas pedem divulgação no jornal.
Quer dizer, mesmo que de forma inconsciente, é preciso fazer o marketing da doação como forma de glorificar a empresa doadora. E sobram quando você não publica. Claro que as vítimas agradecem e coisa e tal, ajudou pra caramba. Mas, para mim, doação verdadeira e sincera é aquela em que o doador não quer que seu nome seja revelado e muito menos saia no jornal.
Olho vivo
Se estou enxergando melhor depois da cirurgia da catarata? Posso responder dizendo que, agora, consigo ler até autógrafo de formiga.